segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Projeto Escola da Fajã da Ovelha (EB 1,2,3/PE Prof. Francisco Manuel Santana Barreto)

        Cada pedacinho de nós é formado por momentos passados ao lado de pessoas que preencheram cada um desses pedacinhos e que nos tornam no que somos. Muitos desses momentos são memórias e saudade. Hoje, enquanto vasculhava fotografias dos anos 2004 a 2006, recorri a muitas dessa memórias... É curioso, há quem diga que as memórias estão alojadas algures no cérebro... Por vezes, fico muito confuso, porque ao reavivá-las, parecem provir do coração.
        Nas memórias de hoje, surgiu o projeto da Escola da Fajã da Ovelha (Ilha da Madeira). Todas as escolas onde trabalhei (Açores, Madeira e Continente), até hoje, foram muito importantes para mim, sobretudo ao nível das pessoas fantásticas e grandes amigos que encontrei entre os colegas professores, os alunos, encarregados de educação e pessoal não docente. De todas as escolas guardo memórias e muitas saudades.  Penso que em todas dediquei-me de alma e coração, contudo neste dois anos, a entrega foi total.
        Tudo começou no final do ano letivo 2003/2004. Um novo edifício escolar estava a ser construído na freguesia onde residia. Há anos que se falava deste edifício, e o meu projeto de vida passava por lecionar nesta nova Escola. Na altura lecionava na Escola EB 23/S da Calheta (de onde sairiam os futuros alunos da nova Escola). Um dia em conversa com dois colegas, que pretendiam leccionar na nova Escola, começamos a fazer futurologia e a ver naquela Escola uma Escola de sonho, onde todos os alunos, pais e pessoal docente e não docente, pudessem dar o seu contributo para que tal acontecesse. Alguém teve a ideia de formarmos uma comissão instaladora. Nunca gostei de ser líder de nada. Sempre acreditei que é possível mudar o mundo sem sermos líderes, desde que consigamos "mudar os bocadinhos de mundo que estão à nossa guarda" (Idália Sá Chaves). No entanto, lançaram o desafio... Por serem duas pessoas fantásticas (Delfim Lourenço e Paulo Cafôfo) e por comungarmos de muitos valores e de muitas ideias, juntámo-nos até às tantas da madrugada na minha casinha velhinha da Fajã e elaborámos o projeto para apresentar à Direção Regional de Administração Escolar. Passados uns dias... chamaram-nos e aprovaram as nossas intenções. Passamos a acompanhar de perto cada dia de construção daquele edifício escolar. Montámos o nossa base de trabalho na Escola da Calheta, pelo que agradeço ao colega António Lucas, então Presidente da Direção Executiva desta Escola. Elaboração de Orçamento, receção de pessoal docente e não docente ... tudo era feito ali, pois ainda não tínhamos edifício.
        1 de Outubro de 2004. Primeiro dia de aulas... Não tínhamos cadeiras, não tínhamos mobiliário, não tínhamos secretaria, não tínhamos os funcionários... Mesmo assim, queríamos transformar aquele dia, no primeiro de uma história que mudasse a vida daqueles alunos, que eram considerados dos que mais insucesso escolar apresentavam naquele concelho e estavam na cauda do ranking de exames da RAM. Batemos o pé sempre que foi preciso e buscámos sempre aquilo que acreditámos. Todos os dias... 8h00 era hora de chegar e o dia só terminava às 00h00.  As nossas famílias perderam imenso, não tenho qualquer dúvida. Aos poucos a nossa família foi crescendo. Chegaram os nossos queridos colegas... chegaram os nossos queridos alunos... chegaram os queridos pais... chegou, aos poucos, o nosso querido pessoal não docente. Todos quiseram embarcar naquele projeto... todos acreditaram naquela caravela. Projeto Caravela, Porto de Abrigo, Docas, alguns dos nomes ligados ao projeto e que aos poucos foram construídos. Foram dois anos de trabalho intenso (sempre mais de 12 horas diárias, incluindo por vezes Sábados e Domingos). Nem à noite descançávamos. Para poupar uns trocos, tínhamos o alarme ligado aos nossos telemóveis... Quantas e quantas horas da madrugada, lá íamos à procura de intrusos que felizmente nunca passaram de insetos ou algum gato que ficara a descansar dentro da Escola.
        Teria 1001 memórias... Nunca as conseguirei escrever todas... Agradeço ao Delfim Lourenço, ao Paulo Cafôfo pela paciência que tiveram para me aturar. Sabem? Na realidade acho que formávamos uma bela equipa... Os 3 tão diferentes... mas tão interdependentes. Alguém um dia disse-me: "O Delfim é a razão, o Paulo é o coração e tu és a alma"! Talvez fizesse sentido esta triologia razão/alma/coração, não sei! No primeiro dia que chegámos aquele edificio, o Paulo disse-me: "Se algum dia eu apanhar aquele vírus de um líder (quero, posso e mando), dá-me umas "bolachadas" para eu acordar!". Não queríamos, de todo, nos tornarmos em homens do Sistema! - Amigo Paulo... nunca foi preciso...
       A minha despedida daquela grande família foi uma dor imensa. Colegas, alunos, pessoal não docente, pais... Era-nos muito difícil aquela partida e deixá-los a todos. Sentia-me como que tinha de abandonar um barco, com um mar imenso pela frente. Mas, com as alterações de concursos que se adivinhavam e com a família (de sangue) nos Açores e no Continente, tivemos (eu, a minha querida esposa e filhas) de rumar a outro porto.
       Hoje, resta-me agradecer a todos os que faziam parte desta família, por aquela viagem de dois anos. Foram, sem dúvida, dois anos fantásticos. Todos vós foram razão... todos vós foram coração... todos vós foram alma! Obrigado a todos!

Ficam aqui algumas fotos... algumas memórias...
Escola em construção.

Bolo 1º Dia de Aulas. A D. Inês e a D. Graça, lá deram o litro. Depois pediram-me para fazer as letras em açucar. Foi o primeiro e último que decorei na minha vida... pois, pouco artístico ficou.


Natal com os Pais - 1º Ciclo

Início de uma noite de "Amizade Secreta"

Visita de Estudo a uma Levada

Pintando a Natureza. 1º Ano de Escolaridade.

Visita de Estudo ao Parque de Santana (a data da câmara está errada).

O 1º Ano a preparar-se para cantar os reis.

Carnaval - 5ºC

Carnaval 5ºA

Biblioteca (um dos cantinhos).

Duas pessoas que me são muito familiares.

Dança do Inglês - 1º Ciclo

Presépio ao Vivo

Encenação de Adriana Guerreiro (Educação Musical)

Declaração de Amor

Passagem de modelos

Magusto ajantarado

Os Flinstones por terras da Fajã

Mais um Encontro com a Educação (Pais, alunos e professores). Alunos ensinam à comunidade o que aprenderam na Escola.






Nos encontros... a confraternização nunca faltou... bem como os comes e bebes.

Havia cada cromo a passar pela sala da Comissão Instaladora!

Uma grande corrida de carrinhos de rolamentos. Este bilugar teria ganho a corrida se não tivesse levado um contentor do lixo à frente e tivesse aterrado num monte de estrume.

A matança do porco não era permitida... Jipes... Pickups 4X4... Porco, pessoal e material eram transportados até lugar incerto nas serras da ilha... Para além do convívio, os passeios TT eram um espetáculo.

Encontro com a Matemática

Aula de Ciências da Natureza - 6º B

Preparação de Lanche (Tea) Interturmas (Inglês) com os Encarregados de Educação e professores




Festa final de ano. Encenação da peça "O João Ratão".

Dança do 2º Ano.

Sempre na luta pelo melhor para a nossa Escola


Um dia no Paúl do Mar... Temos marinheiro!

O vôo do Cláudio

O salto da Yoselyn

Dinis... aquele amigo que me ofereceu na última aula uma soqueira, para enfrentar os novos desafios da vida, bem como um soldadinho de chumbo (que guardo religiosamente).

Mais uma jantarada da malta.

Aulas de Ciências da Natureza da professora Carla Rosa.


Sem esperarmos, os nossos alunos (da minha mulher e meus) fizeram-nos uma festa de despedida....



... a despedida foi muito difícil.

Este "até um dia"... marcou-me para sempre, pois o reencontro tem existido!

Os nossos queridos alunos e colegas (6ºB e 6ºC). O dia que nos prepararam a surpresa da despedida. Muita vontade de ficar e uma imensa alegria por ter conhecido tantas pessoas autênticas, com uma entrega total à amizade e ao amor. Obrigado a todos!