sábado, 29 de março de 2014

Urgente!!! Precisamos de Líderes!!!


       "Para os homens, ter um guia é tão fundamental como comer, beber e dormir." (Charles de Gaulle).
        Há muito que Portugal perdeu o seu rumo. Nos últimos anos, todos os nossos Comandantes, navegaram sem olhar o horizonte, sem conhecer os astros, sem conhecer os principais instrumentos de navegação... Navegam olhando para o seu umbigo e quando a nau está prestes a encalhar, a afundar ou a ser albarroada, são os primeiros a abandoná-la (quando as regras e o bom senso dizem que devem ser sempre os últimos, e lutarem até ao fim por cada um dos seus tripulantes)! Exigem sacrifícios, sem passar por eles, sem dar o exemplo... Não abdicam de luxos, nem de atribuir ordenados chorudos a gestores públicos e a gestores de empresas público-privadas, onde os lucros são divididos entre estes e os prejuízos divididos pelo povo quando há gestão danosa! Os banqueiros têm ordenados multimilionários e acumulam riqueza e quando os bancos estão em apuros, devido a este enriquecimento (dito lícito) e outras trafulhices de má gestão, o Povo é chamado para tapar buracos financeiros!
        Harry Truman dizia que "a liderança é a capacidade de conseguir que as pessoas façam o que não querem fazer e gostem de o fazer". Os nossos líderes não fazem o que obrigam as pessoas a fazer (e não querem fazer) e muito menos conseguem que as pessoas gostem de fazer aquilo a que são obrigadas a fazer!!! Quando fazemos parte de um grupo, de um país, de uma família... o amor que nos une, leva-nos a fazer sacrifícios para ajudar o próximo, para ajudar o grupo... Esses sacrifícios apenas fazem sentido, quando toda a Família e em especial os seus líderes (tem de haver sempre um líder) são os que dão o exemplo em primeiro lugar... O sabor da vitória do grupo, após o sacrifício de todos, é algo extraordinário da condição humana. Vejamos o Papa Francisco... Vejamos Nelson Mandela... Começaram por abdicar de muitos dos seus luxos... Lideram ou lideraram pelo exemplo... A liderança deverá entrar no coração de cada um e nunca deverá ser sentida na pele!
        Os nosso líderes não amam, nem têm amado o seu povo... Não amam as suas gentes... Fazem parte de uma grande Grupo que alguns apelidam de "Piratas", que saqueiam os cofres do Estado, de uma forma completamente lícita e descarada, pois enquanto comandaram ou comandam a nau, prepararam e aprovaram leis para tal! Se for ilícito... existem casos que prescrevem, existem contas em "off-shores" a engordar e mil e um esquemas que este Grupo muito bem esconde. O poder vai rodando entre os elementos desse vasto Grupo, havendo aqueles, que disfarçadamente (sem nunca entrar na nau) comandam à distância... todo este saque! Manipulam-se números, faz-se estatística eliminando dados, utilizando a Matemática para anestesiar e enganar o povo durante o saque. As pessoas já não contam... O que sentem, como vivem... o País real não interessa... Quando não existe correspondência entre o que vai na alma e no coração de um povo e os dados estatísticos e a Matemática... é porque houve omissão ou manipulação errada desses dados! Utilizar a Matemática como instrumento de manipulação de massas deveria ser crime!
        Qualquer Economia funciona com a "circulação do dinheiro"! O dinheiro daqueles que trabalham e produzem, não desaparece para outra Galáxia... Apenas passa das suas mãos, para as mãos do Grupo de "Piratas"! Tudo tão silencioso! E já não volta... Deixando de circular... Pondo em risco toda a Economia!!!
        Há dias alguém dizia... "São todos uns mamões..." Fui ao dicionário ver o significado de "mamão" e de "mamar". "Mamão- que mama muito e frequentemente; 1 Botânica: rebento que rouba o suco à planta; 2 Zoologia: animal que ainda mama; 3 Zoologia: bezerro ou burro de um ano." "Mamar- I sugar (o leite da mãe); 2 Aprender na Infância; 3 Apanhar, Obter; 4 Extorquir, enganar; 5 Consumir, Engolir; alimentar-se com leite sugado da mamã". Sendo a Mãe o nosso País... tudo faz sentido... Esquecendo que cada Português é um dos seus filhos, estes "filhos da Mãe", não deixam para os seus irmãos (o povo... as pessoas... aqueles que sabem o quanto custa a vida...), qualquer gota de leite, obrigando muitos a procurar Mãe adoptiva (outro País)!!! Conseguirão os nossos líderes ir além de tal instinto/ação primária da condição humana, que é Mamar? Será Verdade que estamos perante "mamões" compulsivos... que desconhecem o valor da dádiva e da partilha!!! "Nada parece verdadeiro que não possa parecer falso" (Montaigne).


P.S. Todos os dias somos bombardeados pela comunicação social com notícias que parecem comprovar uma triste realidade... ficam aqui algumas dessas notícias...

http://www.dn.pt/especiais/interior.aspx?content_id=3054648&especial=Revistas%20de%20Imprensa&seccao=TV%20e%20MEDIA

http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/nacional/economia/ex-ministros-em-lugares-dourados-190904877

http://www.publico.pt/sociedade/noticia/diferencas-entre-os-muito-ricos-e-muito-pobres-continuou-a-subir-em-portugal-1629573

http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/exclusivo-cm/salario-milionarios-no-novo-banco-publico


segunda-feira, 24 de março de 2014

Homem do Mar


Meu Pai na "Ponta da Baixa" - Arcos 1978
      Duas da manhã. Uma manhã de Agosto como tantas outras. O tempo estava calmo. Uma brisa descia a Montanha do Pico. As cagarras cantavam os seus cânticos, como se a letra fosse "água-água-água; água-água-água; água-água-água". No céu a Via Láctea percorria o Céu, alinhada de Sul para Norte. Olhando para Norte, lá estava a Estrela Polar, na cauda da Ursa Menor, a dar-nos confiança para o dia que se avizinhava, a indicar-nos o caminho. Olhando um pouco para a esquerda, lá estava a grande Ursa Maior, parecendo uma grande frigideira, a lembrar que teríamos de buscar algo durante o dia, para justificar tão essencial instrumento de cozinha!!! Preparávamo-nos para mais uma madrugada e manhã de pesca!
       Acabáramos de dormir poucas horas. Nestas noites tinha um sono leve... Assim que ouvia o soalho da adega a ranger, com os passos leves do meu querido pai, sabia que estava na hora de acordar!!! Horas antes, tínhamos ido apanhar caranguejo durante o fechar da noite, com a luz de um facho (lata com uma torcida de pano na ponta, embebida em petróleo que estava no seu interior), conseguindo encandear os caranguejos e apanhá-los à mão. As "moiras" (ou "mouras") serviriam para isca e os "fidalgos"(outra espécie), serviriam para a minha querida mãe fazer um belo petisco! Antes de irmos ao caranguejo, já tínhamos preparado e afinado todas as artes de pesca. O "trol" já estava iscado com metades de pequenos chicharros ("trol" - fio de pesca de nylon com cerca de 100 metros com anzóis equidistantes e que fica a espera da sua sorte no fundo do mar), as redes estavam alinhadas dentro das sacas de serapilheira, as agulheiras tinham sido verificadas, os alinhavões também, as poitas (pedras que serviram de âncora) tinham sido escolhidas, toda a palamenta fora colocada em cima da Toyota Dyna (Modelo BU15 - matrícula FN-21-22) e o motor Johnson 4cv (motor velhinho que já tinha servido para ir à pesca nas costas do Estado de Nova Iorque) preso no taipal esquerdo junto à cabine.
       Devia ter os meus 14 anos (Ano de 1985)... Não sei... Nesta coisa de idades, por vezes a minha memória não deu a devida importância! Depois de umas boas sopas de leite com massa sovada, saímos dos Arcos (localidade à beira mar na freguesia de Santa Luzia - Ilha do Pico) na Toyota, para o porto da localidade do Cais de Mourato (freguesia das Bandeiras), sítio onde repousava a "Pérola do Mar", uma "chata" de madeira de criptoméria, com cavername de "cedro do mato", com pouco mais de 4 metros, mas com uma boca capaz de aguentar muito mar e 3 ou 4 homens debruçados a bombordo ou a estibordo, sem revirar. Apesar do céu limpo e da pequena brisa que vinha da montanha, ouvia-se o rebentar das ondas, sobre a baixa a oeste da rampa do porto e, a leste, fora do "Enchente" (Piscina de Maré, onde de dia a malta vai nadar). Apenas o clarão da Via Láctea nos iluminava e todas as outras estrelas que parecem desalinhadas no Céu. Dois outros clarões (intermitentes e ritmados em grupos de três) nos guiavam... o Farol da Ribeirinha na Ilha do Faial e o Farol da Ponta dos Rosais na Ilha de São Jorge. Para além de "toda" esta luz, um clarão permanente pairava sobre a cidade da Horta, como se nos chamasse à atenção sobre a sua existência.

"Pérola do Mar" no Cais do Mourato -1995
        Arrastada à mão, com a quilha a deslizar sobre os "paus"(pequenos cepos de madeira com corte onde encaixava a quilha), lá deslizámos a "Pérola do Mar", pela rampa até à beirinha de água. Motor, remos, "jája"(rolha de cortiça) e cabo colocados, lá fazíamos força para meter a lancha na água. Enquanto meu pai segurava nos remos, ía-lhe passando o resto dos arrais de pesca e palamenta, segurando sempre o cabo preso na proa. Motor a trabalhar, remos para dentro e lá saímos, no escuro da noite... Mais uma madrugada de pesca, como tantas outras... Desta vez experimentaríamos várias artes de pesca em simultâneo... A esperança era sempre a mesma!!!
Arcos 1994 - Tartaruga apanhada viva para as fotos e devolvida ao seu habitat

        Começámos por largar o "trol" em águas mais profundas, um pouco mais a Norte do local que escolhemos para pescar de alinhavão (fio 120 com um grande anzol) para a pesca de peixes de maior porte. Um pouco mais para terra, deixámos as 3 redes, sempre com o cuidado de coordenar os remos com a força da corrente da maré, de forma a que estas ficassem bem esticadas ao longo do fundo (talvez a uns 50 metros de profundidade). Entre o "trol" e as redes largámos a poita. De alinhavão na mão, aguardávamos o primeiro toque, naquele grande anzol com isca de sargo. Pouco tempo tardou... Um grande mero (talvez uns 15 ou 20 kg), um grande "crongo"(congro ou safio), moreias pintadas, moreias pretas, moreões, abróteas... Nunca em tão pouco tempo tínhamos visto tanto peixe a entrar na "Pérola do Mar"... Tínhamos sido abençoados... e agradecíamos a Deus por tamanha benção! Mas, quis o destino que essa benção nos acompanhasse até ao regresso ao Porto do Cais do Mourato. Quando o Sol já começava a espreitar lá por detrás de São Jorge, levantámos o "trol"... mais uma pescada incrível, repetindo a dose das espécies já capturadas. Dirigimo-nos para junto das redes, tirámos as agulheiras e pescámos com isca de caranguejo... Muitas foram as garoupas e bodiões que pescámos... A hora de levantar as redes aproximava-se... Não podíamos deixar o Sol subir muito no Céu, pois os "peixes porco" ao acordarem, começariam o dia a devorar o peixe que malhara nas redes. À medida que puxávamos a primeira rede, víamos o reluzir de muitos peixes... Não podíamos acreditar! Parecia que todas as "vejas" (na Madeira chamam "bodião" - o nosso "bodião" é diferente) tinham decidido passar pela rede! Estavam as 3 redes carregadinhas de "vejas", bicudas, taínhas e outros peixes... Nunca a "Pérola do Mar" tinha visto tanto peixe no seu interior... O peso era muito... Devagar, navegámos até à rampa do Cais do Mourato... Tínhamos peixe para uns bons meses para toda a família... Nunca hei-de esquecer aquela madrugada e início de manhã!!!
        Aprendi com meu Pai a amar o Mar e a agradecer tudo o que ele me dá. Nos Açores e em especial na Ilha do Pico, normalmente temos os "Homens do Mar" e os "Homens da Terra"... Os "Homens do Mar"  amam o Mar e procuram nesta imensidão, a sua sorte e grande parte do seu sustento... Os "Homens da Terra", amam a Terra, criam gado e predominantemente cultivam a Terra, não tendo grande ligação ao Mar. Ambos complementam-se... Ambos dão sentido àquele Mar por vezes revolto e àquela terra basáltica difícil de cultivar. Meu avô paterno sempre foi um "Homem da Terra" (apenas descobriu o Mar dois ou 3 anos antes de falecer). Levava os seus pequenos filhos (a partir dos 5/6 anos) a trabalhar a Terra de Sol a Sol. Aos poucos, meu Pai cultivou a paixão pelo Mar. Quando meu avô dava-lhe a tarefa de trabalhar 5 ou 6 "canadas" de vinha, ele lá dava o máximo, para correr até ao baixio de "Debaixo da Rocha" (http://serounaoserverdade.blogspot.pt/2012/02/magia-debaixo-da-rocha.html), e pegar na sua cana de bambu e pescar desde o "Pico da Garça" até à "Pedra do Leste". Aprendeu a ouvir o Mar. O Mar fala-nos... Diz-nos quem somos... O seu horizonte dá-nos a esperança... Meu Pai foi sempre o meu grande mestre. Todos os segredos que o Mar lhe contou, transmitiu-os aos seus filhos. Com ele, aprendi a ouvir o Mar... Aprendi a ouvir o que dizem as suas ondas quando estou junto à costa... Aprendi a ouvir o seu silêncio quando mergulho no seu seio, como se desafiasse a gravidade e voasse livremente... Aprendi a agradecer tudo o que o Mar nos dá!!! Aprendi a Amá-lo e a respeitá-lo! Descobri que grande parte da minha alma é Mar, por mais longe e distante esteja! Aprendi a ser um "Homem do Mar"! Obrigado meu Pai, por tudo o que me ensinaste!
Embucheirar de um Polvo no Baixio de "Debaixo da Rocha"
"Debaixo da Rocha" 2001 - Eu e a minha Princesa!