quinta-feira, 22 de março de 2012

Valorizar para Motivar versus Depreciar para Apequenar

        A grandeza de um líder está na capacidade de tornar grande cada pessoa do seu país, do seu concelho, da sua freguesia ou da sua equipa... Considero os nossos líderes muito pequeninos... Serão micro? Serão nano? Tudo está no tamanho da alma e no coração que lhe dá vida! Ou melhor... acredito que todas as pessoas têm o mesmo tamanho de alma e coração, a questão está, apenas e só, na força interior para se libertarem de muitas grades e correntes que enclausuram a alma e o coração. Isto define o carácter de uma pessoa e é que a torna grande ou pequena. 
        Os nossos líderes, por serem muito pequenos e de uma fraqueza enorme enquanto seres humanos (repito, têm toda a grandeza enclausurada), vivem com muitos medos. O medo de um povo forte é mesmo um pavor ou uma espécie de fobia para os poderes político e económico. Construíram um pedestal de vidro e vivem numa redoma de onde, de vez em quando deixam cair umas migalhitas, para que o povo as apanhe e, no desespero da fraqueza física, as apanhe e chore por mais... E, lá de cima... alguém diz "Não sejam piegas!". Muito estimulante, para um líder!
        Apenas relembro uma ou duas coisitas... Primeiro, o pedestal é de vidro! Em segundo lugar, a fraqueza do povo é apenas física e anímica, contudo a alma e o coração estão desencarcerados. Ao longo da história, a variável tempo acabou sempre por dar razão àqueles que se libertaram de correntes como o egoísmo, a ganância e a inveja! É tudo uma questão de tempo...
        Enfim... quase sempre, quando começo a escrever, tendo a divagar e a dispersar-me um pouco. Há pouco mais de uma ano (9 de Janeiro de 2011), Margarida Rufino divulgava no "Jornal de Cascais", alguns dos resultados do Relatório PISA e que passaram ao nosso lado pela censura dos primeiros órgão de comunicação social (controlados direta ou indiretamente pelos poderes político e económico). Na altura, recebi por e-mail esta notícia, como que se de contrabando tratasse. Hoje, ao abrir a minha caixa de e-mail, voltei a recebê-la, enviada por uma amiga. Não posso deixar de a publicar, neste meu tenro blog. Curioso ou não, os estudos encomendados pelos nossos governantes, apelidam (sempre) o seu povo residente de: incompetente, preguiçoso, pouco produtivo (isto é uma "mentira pegada", pois todos os que emigram não o são). As evidências têm, infelizmente, de vir de "fora de portas", porque cá (e para todas as classes profissionais), o que interessa é depreciar para apequenar o povo ... e REINAR! 
        Deixo-vos a Notícia de Margarida Rufino, que traduz o amor e dedicação de uma classe profissional do nosso país, mas que, sem qualquer sombra de dúvida, é uma realidade em todas as classes profissionais. Muito trabalho, muita dedicação, muita alma, muito coração ... Amigos políticos, amigos senhores "donos do mundo"... relembro, o pedestal é de vidro!

        " No meio da crise sócio/económica e do cinzentismo emocional instalado no país há vários meses, eis que o relatório PISA trouxe algumas boas evidências para Portugal.
E a melhor de todas, a que considero verdadeiramente paradigmática, foi omitida pela maioria dos órgãos de comunicação social: Mais de 90% dos alunos portugueses afirmaram ter uma imagem positiva dos seus professores!
        O relatório conclui que os professores portugueses são os que têm a imagem mais positiva de entre os docentes dos 33 países da OCDE, tendo em 2006 aumentado 10 pontos percentuais.
       O mesmo relatório conclui que os professores portugueses estão sempre disponíveis para as ajudas extras aos alunos e que mantêm com eles um excelente relacionamento.
        Estas evidências são altamente abonatórias para os professores portugueses e deveriam ter sido amplamente divulgadas pelos órgãos de comunicação social ( e pelos habituais “fazedores de opinião” luxuosamente remunerados que escrevem para os jornais ou são comentadores na rádio e na televisão) que ostensivamente consideram que os professores do ensino básico e secundário uma classe pouco profissional, com imensos privilégios e luxuosas remunerações…
        Uma classe profissional que deveria ser acarinhada e apoiada por todos, que deveria ter direito às melhores condições de trabalho (salas de aula, equipamento, formação, etc.) e que tem sido maltratada pelo poder político e por todos aqueles que tinham o dever de estar suficientemente informados para poder produzir uma opinião isenta para os demais membros da comunidade.
       Ao conjunto destas evidências acresce outra, onde o papel do professor é determinante: a inclusão.
        O relatório revela-nos que Portugal é o sexto pais da OCDE cujo sistema educativo melhor compensa as assimetrias sócio/económicas!
        E ainda refere que o nosso país tem a maior percentagem de alunos carenciados com excelentes níveis de desempenho em leitura.
        Nada acontece por acaso! Os professores portugueses são excelentes profissionais, pessoas que se dedicam de corpo e alma aos seus alunos, mesmo quando são vilipendiados e ofendidos por membros de classes profissionais tão corporativistas (ou mais!) que a dos professores!
        Como diz a quase totalidade dos alunos, os professores são excelentes pessoas que estão sempre disponíveis para ajudar os seus alunos. Esta é que é a realidade dos professores das escolas do ensino básico e secundário! Obviamente que, como em todas as demais classes profissionais, haverá excepções à regra, aqueles que não cumprem, não assumem as suas responsabilidades, não justificam o ordenado que recebem. Mas, assim como uma andorinha não faz a primavera, também uma ovelha negra não estraga um rebanho.
        Pergunto: porque se escondem os arautos da desgraça, detentores da verdade absoluta, que estão sempre na linha da frente para achincalhar os professores do ensino básico e secundário. Estranha-se o silêncio."

Texto de Margarida Rufino, in "Jornal de Cascais" de 09/01/2011

quarta-feira, 21 de março de 2012

Português Herói da Independência dos Estados Unidos da América

       "Heróis do Mar, nobre povo"... São assim os portugueses, sempre o foram e sempre o serão. Infelizmente, os poderes político e económico do país, tudo têm feito para apequenar este heroísmo. Muitos têm de emigrar para demonstrar essa heroicidade, pois dentro de portas é-lhes proibido sonhar e viver!!!
       Já lá vai o tempo em que todos tinham a oportunidade de ser heróis, neste pedacinho da península Ibérica ou em qualquer parte do Mundo. Todo o português que emigra e passa a trabalhar no estrangeiro, é reconhecido como um dos povos mais trabalhadores e produtivos a nível mundial. Posso-o testemunhar através da comunidade portuguesa residente nos Estados Unidos. Durante séculos, a emigração para este país, foi encarada como uma forma de sobrevivência. De repente, o que seria uma estratégia de sobrevivência, passou a ser uma comunidade de "Self-Made Men", que muito contribuiu para o desenvolvimento e o enriquecimento daquele país. Por isso é conhecido como o país das oportunidades. Mais trabalho implica mais rendimento. Mais rendimento implica mais motivação...
        Em Portugal tudo segue uma lógica diferente... É tão triste ao ponto a que chegou este nosso país de heróis... É tão triste o que os nossos sucessivos governantes fizeram ao seu povo...
       Hoje dou a conhecer mais um herói que pouco é falado cá por estas bandas, e que muito contribuiu para a génese dos Estados Unidos da América. Se George Washinton foi importante para a formação desta nação, não menos importante foi Pedro Francisco, natural da Ilha Terceira, Açores. Participou em 5 batalhas e foi ferido seis vezes, escapando à morte duas vezes. Era conhecido como o "Hércules da Revolução". O dia 15 de Março foi instituído como feriado em vários estados, em honra de mais este grande Homem português. Na costa Leste dos Estados Unidos, vários monumentos foram edificados, para que nunca fosse esquecido.
       George Washington um dia disse, sobre Pedro Francisco: "Sem ele teríamos perdido duas batalhas cruciais, provavelmente a guerra e, com ela, a nossa liberdade. Ele era verdadeiramente um Exército de um Homem Só."


 

terça-feira, 20 de março de 2012

Ilhas de Bruma

Ilha Graciosa, com vista para Ilha de São Jorge e Ilha do Pico (por detrás)
        "Buma: Nevoeiro do mar; Mistério; Incerteza". Alguns dos significados de Bruma que encontrei no meu dicionário de Língua Portuguesa. Penso que poucas palavras conseguem caracterizar as nossa ilhas encantadas, como esta palavra. Desde os rastos de lava deixados nos nossos Mistérios, com muitas histórias que só o divino ou o acaso conseguem explicar, até àquela incerteza (sobretudo daqueles que moram longe) sobre quando a saudade ficará de vez na diáspora e finalmente, junto com as "gaivotas" irão "beijar a terra" (aquela terra)!
        Deixo-vos com as nossas "Ilhas de Bruma", canção interpretada pelo meu amigo Roberto Lino (muitos bons momentos partilhámos nos tempos de estudante na Ilha do Faial), emigrado em San José, Califórnia.


segunda-feira, 19 de março de 2012

Queridas Filhas... Querido Pai!

Desenho Dia do Pai - Filha mais nova
        19 de Março de 2012. Mais um dia, como todos os outros. Na realidade todos os outros dias passaram a ser diferentes depois dos dias 14 de Outubro de 1999 e 23 de Janeiro de 2005. Deixei de ser apenas filho... passei a ser pai. Nestes dois dias uma alegria imensa invadiu-nos a casa e a família. Assistir ao nascimento da minha primeira filha foi como se o Mundo parasse. De repente, na minha mente surgiram milhões de imagens a correr incessantemente, retrospetivando e viajando desde a minha infância até àquele dia especial, agradecendo tudo o que meus pais me deram até então e preparando-me para passar o testemunho.
        Todos os dias, logo pela manhã recebo aqueles dois beijinhos doces que me dão toda a energia para enfrentar o dia. Contudo, hoje, as minhas filhas querem tornar este dia ainda mais especial, por ser o Dia do Pai. Os meus olhos quando se abriram às 7 da manhã, diante de mim estavam as minhas duas filhotas, preparadas para a surpresa. Não eram os beijinhos doces (esses já os recebo todos os dias), eram ofertas genuínas, feitas com o coração e que nos fazem sentir esse amor e acreditar que a vida não é apenas bela! A minha filha mais velha escreveu-me 4 quadras espetaculares e a pequenita, fez em tricô um porta chaves e um postal com um desenho e uma frase linda.



        Meu querido pai... Já não te posso abraçar fisicamente todos os dias, embora esse abraço nunca deixe de existir. Já não sei fazer aquele desenho genuíno que só uma criança sabe e pode fazer. Deixo-te aqui o meu postal, na forma de algumas frases, retiradas de um mini livrinho "Pai, és Fantástico" de Helen Exley, oferecido pelas tuas netas, ao teu filho, neste dia do pai:

"Quando eu era pequena, o meu pai levava-me a dar passeios mágicos. Ele realçava a beleza que nos cercava, uma folha, uma pedra. Tudo aquilo em que tocava e que me explicava parecia ficar vivo e cheio de magia."                                                                  Arkie Whiteley

"Tu és o rochedo sobre o qual construí a minha vida. Nunca me faltou o teu amor, o teu apoio, a tua sabedoria e o teu sorriso."                                                   Pam Brown, 1928

"Pai é o homem que vibra de alegria quando lhe ofereces meias pelo aniversário, pela enésima vez."
                                                                                             Pam Brown, 1928

"Longe ou perto de mim, és parte da minha vida, das minhas esperanças, dos meus êxitos, da minha coragem na adversidade. Regresso a ti à procura de encorajamento e conforto, tal como eu fazia quando era pequena.                                                           Pam Brown, 1928

sábado, 17 de março de 2012

"Estamos a Espatifar a Infância das Crianças" por Eduardo Sá

                        in Diário "As Beiras" de 9 de Março de 2011

        Nesta minha viagem pela blogosfera, tenho feito várias escalas em portos da Educação. Nessas acostagens, tenho deixado algumas reflexões e testemunhos sobre o "Ser Criança" num Sistema criado por adultos inconscientes (ou conscientes, não sei...). Deixo-vos uma entrevista a Eduardo Sá que muito fundamenta e dá sentido às minhas acostagens.

"O Estado não está a cumprir a lei no que respeita à proteção das crianças em risco, acusa Eduardo Sá. Em entrevista, o psicólogo lança duras críticas ao caso do desaparecimento de Rui Pedro que veio demonstrar que, em Portugal, há crianças de primeira e crianças de segunda. Os meios mobilizados, comparativamente aos de Maddie McCann, foram prova disso.

Disse um dia que as crianças estão em vias de extinção…
Estão. Não digo isso pelo facto de o Governo e a oposição as terem transformado numa espécie de conta poupança reforma. Acho até divertido que se fale de tudo e mais alguma coisa nas várias campanhas – presidenciais incluídas – e as questões das crianças e a política de fundo para a família nem sequer exista. Portanto, o que é que a mim me preocupa? Preocupa-me esta ideia complemente absurda de crescimento, que dá a entender que as crianças têm que ser jovens tecnocratas de fraldas antes dos seis, têm que ser jovens tecnocratas de mochila depois dos seis e têm que ser jovens tecnocratas de sucesso ao entrarem na universidade para que, finalmente – como se fosse uma linha de montagem –, saíssem todos mestres. Mestre é a designação mais vergonhosa que eu já vi para um título académico, porque é um título que reconhecemos aos sábios.

Andamos a enganar os jovens?
Isto é o cúmulo da publicidade enganosa. Explicar a miúdos com 22 e 23 anos que são mestres, de maneira a esperar que eles sejam, de preferência, ídolos antes dos 30… Anda toda a gente num registo eufórico e doente, que não percebe que as pessoas precisam de tempo para crescer. Acho engraçadíssimo quando dizem com orgulho que no jardim-de-infância há crianças que já sabem ler e escrever, mas não é isso que as torna mais sábias. Às vezes, as pessoas confundem macacos de imitação com crianças sábias. Acho engraçadíssimo quando as crianças não podem errar – eu julgava que errar era aprender. Mas não: as crianças têm que ter notas que são insufladas sabe Deus pelo quê. Vivem empanturradas em explicações. Se os pais puderem utilizar todo o tempo que a escola coloca ao serviço das famílias, elas podem passar 55 horas por semana na escola… Estamos a espatifar a infância das crianças, a espatifar a adolescência e, depois, com um olhar absolutamente cândido, dizemos que elas têm défices de atenção.

Existe a ideia que as pessoas mais escolarizadas são pessoas mais educadas?
Vive-se com essa a ideia. E peço desculpa, mas as pessoas, com toda a boa vontade do mundo, estão a tornar as crianças mais estúpidas. Se as crianças não aprendem a tolerar as frustrações, nunca hão de ser engenhosas e nunca hão de aprender com as dificuldades. A dor dói, magoa, mas é uma oportunidade de crescimento e não há dores que venham por bem. As dores são as grandes oportunidades para nos interpelarmos e para nos transformarmos. E nós não damos oportunidade às crianças para serem crianças. Queremo-las como fossem clones daquilo que nós sonhámos ser, mas que não fomos capazes. E, nestas circunstâncias, tem que haver alguém com algum bom senso que diga “tenham cuidado que estão a comprometer tudo”.

As crianças brincam pouco?
As crianças brincam de menos. Se houvesse em Portugal um Ministério da Educação digno desse nome, teria outro tipo de cuidado com os recreios das escolas. Os recreios das escolas públicas são uma vergonha. Não reúnem condições indispensáveis para brincar. As escolas deviam ter recreios cobertos, mas brincar é, para os governantes, uma atividade tipo primavera-verão: quando está frio e a chover, as crianças não podem ficar nas salas, não podem ficar nos espaços comuns, não podem andar na chuva… Brincam nos beirais, que é uma preparação para os desportos radicais. Mas, na falta de cuidados em relação às crianças, há um exemplo que é o mais delicioso do mundo: não compreendo porque é que as crianças têm uma disciplina de Educação para Saúde e depois, nomeadamente nas escolas públicas, as casas de banho dos alunos não cumprem as condições indispensáveis em termos de saúde pública. Para a ASAE, a segurança alimentar é importante, a contrafação é importante. As crianças, não.

O que lhe apraz dizer sobre toda esta polémica em torno dos contratos de associação?
Não me choca que o Estado, quando não consegue cumprir os seus compromissos, possa delegá-los noutros. E possa, na sequência disso, fazer os contratos de associação que acha que deve fazer. Até aqui, isto é pacífico. Agora, há dois aspetos que me parecem incontornáveis: quando as pessoas querem negociar de forma séria e leal, negoceiam a tempo e horas e não me chocaria se hoje estivéssemos a negociar uma transformação para daqui a dois anos, de maneira a que se possam pensar alternativas. Não acho que o Governo tenha estado bem neste aspeto. Agora, choca-me que depois as crianças sejam instrumentalizadas de uma forma absolutamente indecorosa e sejam trazidas para discussões que não são bem razoáveis. Instrumentalizar campanhas presidenciais à esquerda e à direita com este tipo de questões, peço desculpa, é um bom serviço em favor do obscurantismo.

Cada vez mais se ouve falar de crianças maltratadas…
Felizmente.

Tal não significa que haja maior número de crianças nessa condição?
Por amor de Deus. Estas são as melhores famílias que a humanidade conheceu. As atuais. O que significa que os nossos filhos estão seguramente melhores.

O que leva um pai a maltratar um filho?
(suspira) Muito sofrimento acumulado. Pessoas doentes sempre existiram ao longo da história. O sistema judicial é que não. É uma conquista importante da humanidade e todos nós devemos exigir que um sistema judicial, dedicado às crianças, seja um bocadinho de sistema judicial e que tenha um componente significativo de saúde, nomeadamente de saúde mental. Que nós aceitemos que os pais maltratem, não podemos aceitar; que nós aceitemos que o Estado, como garante de princípios fundamentais, seja omisso na proteção das crianças, é que eu acho que seja inadmissível. Quando grande parte das comissões de proteção tem pessoas da maior generosidade que estão em part-time ou em voluntariado, isto diz bem o que é a proteção das crianças em Portugal. Quando nós admitimos que haja crianças que, no fundo, estão sinalizadas como estando em perigo, mas estão em perigo durante anos… É aqui que eu acho que temos que parar e perceber o que é que queremos da proteção das crianças. Porque o Estado não cumpre a lei. Em média, as crianças estão confiadas aos centros de acolhimento cinco anos. O Estado comete ilegalidades sobre ilegalidades a esse nível.

Mas porque é que se maltrata?
Repare: ainda hoje há pessoas que suspiram pela escola do antigo regime, que era uma escola exemplar, onde cada erro representava uma reguada. Muitos destes pais tiveram escolas e famílias muito autoritárias. É por isso que os pais hoje, quando se trata de dizer que “não” a um filho, confundem autoridade e autoritarismo. E passam a vida quase a pedir desculpa com a ideia de que o “não” traumatiza. A autoridade é um exercício de bondade; o autoritarismo é um exercício de prepotência. A prova de que nós fomos crescendo com estes equívocos é um bocadinho esta. Ainda há pais maltratantes.

De todos os estratos sociais, portanto…
De repente, até parece que os pais da classe média não maltratam. Há crianças que andam em colégios para meninos com “pedigree” e chegam lá todos os dias com marcas de serem batidas. E quando têm 80 por cento nos testes ficam em pânico, porque são aterrorizadas constantemente… Essas crianças estão em perigo. Porque é que as comissões nunca protegem esse tipo de crianças? Temos que proteger mais e proteger melhor. E os tribunais têm que ser mais duros em relação aos pais que maltratam e negligenciam porque, por mais doentes que eles estejam, não têm o direito de desbaratar todos os recursos saudáveis dos filhos.

Como comenta caso do Rui Pedro, desaparecido há 13 anos?
Uma vergonha! É uma vergonha que o Estado – e não estou a falar dos tribunais nem da justiça – o Estado, como garante do exercício da justiça, mobilize os meios que mobilizou para a menina do casal McCann e não mobilize os mesmos meios para todas as crianças desaparecidas. Não há em Portugal, não pode haver num Estado de Direito, crianças de 1.ª e crianças de 2.ª. não é justificação que alguns elementos de aparelho de Estado digam “não averiguámos porque não havia meios”. Isto é ainda é mais ofensivo para os cidadãos que, com um esforço terrível, pagam impostos resultantes da má governação dos governos dos últimos 30 anos. Estamos a falar da vida de uma criança que não sabemos onde está; se está viva ou não. Estamos a falar de pais que há 13 anos, desesperadamente, apelam de todas as formas possíveis por ajuda. E eu já perdi a conta a comentários de pessoas que comentam tudo e que até em relação ao equilíbrio mental da mãe já se dirigiram. Meus Deus! Quem é que é o pai de bom senso que, ao fim de 13 anos nestas condições, consegue estar equilibrado? Ninguém.

O Estado falhou neste caso?
Aquilo que o Estado mobiliza quando uma criança desaparece nunca são os meios necessários e sufi cientes, porque parte sempre do pressuposto que não é uma questão tão urgente como o crime económico e outras coisas do género. Acho isto da maior gravidade. E acho, sobretudo, da maior gravidade que um país inteiro pare à procura de uma criança – e acho muito bem –, mas como se as crianças tivessem nacionalidade. Compreende? Como é que podemos esperar que aqueles pais aceitem uma disparidade desta natureza, como se os filhos dos outros fossem filhos de 1.ª e os filhos deles fossem filhos de 2.ª. Acho uma vergonha. E aquilo que é ainda mais vergonhoso é que este caso não tenha merecido por parte das figuras do Estado, ao menos isto: um pedido de desculpas aos cidadãos e tomarem isto como pretexto para configurarem outra forma de atuação para evitar que isto se repita.

É possível ensinar as pessoas a serem bons pais?
É. Os pais precisam de falar pelos filhos: eles sabem muito bem que quem nos ama diz-nos por atos (e por omissões) qualquer coisa como: “sente-me em ti, pensa por mim e fala por nós”. E, de facto, os pais às vezes sentem, pensam, mas não falam. Não falam nem por eles, nem pelos filhos. Ensinar pode fazer-se de maneira divertida, pode significar dizermos aos pais que estão obrigados a dar uma hora por dia aos filhos. Uma hora de mãe ou uma hora de pai, faz muito melhor do que o óleo de fígado de bacalhau para as crianças crescerem. E é necessário dizer aos pais que têm fazer, pelo menos, uma asneira de oito em oito horas. Os pais que não fazem asneiras não são bons pais.

Costuma dizer que as pessoas têm o coração apertado até ao último botão. É o que se passa com os pais?
Acho que somos todos mal-educados. Todos tivemos uma educação judaico-cristã, uma educação positivista que, em muitos aspetos foi importante, mas que criou um vício de forma muito cartesiano que nos leva a imaginar que, quanto mais racionais, melhores pessoas. Fomos todos mal-educados para as emoções. Ainda continuamos a achar que ter raiva é uma coisa feia, como se a raiva não fosse o melhor ansiolítico do mundo. Quem assume que tem ódio de vez em quando? E o ódio só acontece quando alguém que nos ama nos magoa muito. As emoções são um GPS fantástico que temos na nossa vida e nós somos educados para reprimir as emoções. Quando reprimimos as emoções, além dos efeitos neurológicos que isto provoca, vai introduzir uma coisa que é pior: à medida que não transformamos as emoções em palavras, passamos a ficar partidos ao meio. Sentimos tudo, somos tremendamente intuitivos, mas depois deixamos de aprender a falar. Quanto menos somos educados para as emoções, menos educados nos tornamos para as palavras e mais começamos a adoecer.

Somos, então, mal-educados para o amor?
Somos também mal-educados para o amor. Mas para que é que é preciso educação sexual nas escolas? Vai-me desculpar, a sexualidade faz muito bem à saúde. Mas muitas vezes esta “educação moral e religiosa parte II” está a partir do pressuposto de coisas erradas. Educar para o amor é uma coisa muito mais séria. É muito importante dizer o que é o aparelho reprodutor e falar de meios contracetivos… nada disso merece questão. Mas o que eu gostava é que também se explicasse o que é que são as relações amorosas. Devia ou não devia ser proibido casar com o primeiro namorado? Só devia. Quer dizer: passamos a vida a dizer que errar é aprender, mas nas relações amorosas temos que acertar à primeira. Onde é que isto já se viu? Isto é mentira. Se queremos educar para as relações amorosas, devíamos dizer que devia ser proibido casar para sempre.

Não devia ser para sempre?
São todas para sempre. Mas o que eu gostava que as pessoas percebessem é que quanto mais importante é uma relação mais frágil se torna. Porque exigimos às pessoas que amamos – e bem –aquilo que não exigimos a mais ninguém. E quanto mais importante for uma relação, mais preciosa ela é. Era muito bom que nós dissemos que todas as relações morrem, sobretudo as mais importantes e, sobretudo, se foram maltratadas. No fundo, educam-nos para nós abotoarmos o coração até o último botão. E, às vezes, as pessoas despem-se facilmente por fora e têm dificuldade em perceber que o grande desafio da vida é despirmo-nos por dentro. É darmo-nos a conhecer por dentro.

Tem uma boa relação com os seus alunos de Psicologia da Universidade de Coimbra?
Gosto muito deles. Gosto muito de dar aulas, mas não gosto do poder universitário. Aprendo muito quando dou aulas, porque sinto-me obrigado a transmitir uma experiência muito diversificada e de muitos anos, a ser claro e simples. Nem sempre é uma relação/opção fácil, mas quando eles percebem que somos capazes de gostar deles e que conseguimos transformar um universo muito complexo como o da vida mental numa leitura relativamente simples, torna-se uma relação muito boa. Não perco de vista que eles são colegas mais novos.

Do que não gosta no poder universitário?
Às vezes,fico meio sem jeito ao dar-me conta de como, em muitos momentos no meio universitário, o bom gosto e a boa educação faltam. E devo dizer-lhe que faltam onde não deviam faltar. Mais do que integrar conhecimentos, as escolas servem para nós ficarmos melhor educados e para nos tornamos melhores pessoas e há muitos episódios soltos, em escolas universitárias – não só em Coimbra – em que os professores são um bom exemplo daquilo que não é boa educação. E depois há um aspeto na vida universitária que me preocupa: existe uma diferença profunda entre os sabichões e os sábios. E há densidade de sabichões por metro quadrado na vida universitária que me incomoda. Acho que os sábios mudam o mundo. Não precisamos de ser altivos ou arrogantes para merecermos respeito.

Não é um meio que convide a pensar?
O poder universitário não é um meio onde a sabedoria seja premiada. Não é. E, às vezes, não é um meio que convide a pensar, onde as pessoas se possam interpelar de forma vertical e leal. Às vezes, não é um meio leal, o que eu acho incompreensível.

Teve uma infância feliz?
Gostava de ter brincado muito mais. Gostava de não ter passado por algumas situações difíceis que vivi. Poderia ser muito melhor, seguramente."

sexta-feira, 16 de março de 2012

Memórias Vivas...

        Ao longo da minha curta carreira enquanto "blogger" (Pouco mais de 4 meses), tenho reavivado muitas das minhas memórias que estão guardadas algures, desde os meus tempos de infância. As melhores memórias foram aquelas em que o tempo e o espaço abraçaram a família. Amo muito toda a minha família. Amo todos os que estão entre nós. Amo todos aqueles que têm a sua inscrição na minha memória genética, mesmo os que nunca cheguei a conhecer. Cada família é uma História de Amor. Cada história está escrita nos corações de cada membro na família. Infelizmente o olho humano foi feito para tudo ver e por vezes tem muita dificuldade em ver o coração (o do próprio e o do próximo). Tende a ver o acessório e o que nada interessa para a vida! Tende a valorizar coisas e sentimentos sem interesse! Se cada um de nós fizer um "pequenito" esforço para ver a História de Amor que vai em cada um dos nossos corações, a alma reajustar-se-á ao corpo (deixando de pairar) e a vida volta a fazer sentido com verdadeiros sentimentos... com Amor!

        Hoje recebi uma mensagem de minha Tia Sãozinha. Enviou-me uma série de fotografias que me fizeram abrir o "meu livro" das "Histórias de Amor" da família e ilustram muitos dos meus "posts":

http://serounaoserverdade.blogspot.com/2012/02/magia-debaixo-da-rocha.html




 http://serounaoserverdade.blogspot.com/2011/12/uma-prisao-inocente.html



Outras fotos da História de Amor da minha Família e que ilustram muitas das minhas memórias lançadas neste Blog.







segunda-feira, 12 de março de 2012

Educar: Aos Olhos de Rubem Alves

         Muitas pessoas têm me dado alento e orientado na minha caminhada pela Educação. Os alunos têm sido os principais protagonistas, contudo tenho aprendido imenso com os meus colegas e com outros adultos que amam a Educação. Enquanto professor, tive a sorte de me cruzar fisicamente com dois dos meus mentores. São eles Rubem Alves e Augusto Cury. Foram dois encontros espetaculares. Recordo-me do meu amigo Paulo Cafôfo falar com emoção, sobre o prazer que teve em estar, em sua casa, sentado no seu sofá, à conversa com Rubem Alves.
        Deixo-vos com este pequeno vídeo com frases deste grande mestre e pensador.

domingo, 11 de março de 2012

A Floresta Que Se Tornou Estéril

        Era uma vez uma árvore... Vivia numa floresta fértil e com um potencial de vida ímpar. Para aquela árvore, cada dia era um desafio: o desafio da vida. Todos os dias tentava se superar a si, sempre em prol do bem comum e do próximo. Sabia que esta dedicação aos outros era a melhor forma de crescer em equilíbrio. Se crescesse mais do que os outros, sentir-se-ia só, lá nas alturas, e a vida não teria sentido. Se todas as suas amigas à volta crescessem mais do que ela, a luz deixaria de lhe chegar e acabaria por sucumbir. Assim, para ela, apenas havia uma forma de encarar a vida: crescerem todos em cooperação, lado a lado.
        Como ela, havia outras árvores naquela floresta. Partilhavam sempre as suas folhinhas que caíam, com as árvores próximas, folhas essas que se transformariam, mais tarde, em matéria inorgânica essencial à floresta. Na altura da polinização, aguardavam por dias de mais vento, para libertarem o polén de forma que chegasse às outras árvores e as tornassem muito férteis.  Libertavam oxigénio de forma que chegasse a todas as árvores da floresta.
        Infelizmente, muitas outras árvores não encaravam a vida dessa forma. Viviam demasiadamente preocupadas com cada rebento ou ramo que viam crescer nas árvores próximas e viviam a vida a olhar, constantemente, para os seus nós e entrenós. Enquanto cresciam, aproveitavam-se da bondade e da partilha de algumas vizinhas. Ansiavam crescer, mas como viviam imbuídas de inveja e de ganância, apenas tinham uma solução para o fazer: tapando a luz ao próximo e nunca partilhando as coisas boas, guardando-as só para si. Desvalorizavam tudo o que a árvore vizinha dava e, pelas costas, ainda desdenhavam dela.
        Nessa floresta, havia também um grande número de árvores que pouco ligavam a si e aos outros. Viviam só por viver. Tudo era-lhes indiferente, desde que lhes chegasse um pouco de sol, água, sais minerais e oxigénio... Não se preocupavam em lutar e trabalhar pelas coisas!
        As árvores que prezavam a cooperação, começaram a ficar tristes, muito tristes. Todos os dias davam demais pelos outros, mas aos poucos começaram a aperceber-se que viviam num mundo de parasitismo. Eram ignoradas e exploradas. Na altura da polinização, partilhavam pólen e não recebiam nada em troca. Precisavam muito do polén das árvores próximas, mas este não vinha. A cada ano que passava, os frutos eram cada vez em menor número e de menor qualidade, apesar de continuarem a se dedicar aos outros. Esgotavam os seus recursos. O egoísmo desenfreado apoderou-se da floresta. Aquelas árvores, que viviam para si, começaram a crescer e a tapar a luz às que queriam viver em sociedade. Por sua vez, estas queriam muito crescer com as outras, mas eram sempre abafadas. Ainda pensaram procurar na floresta outras árvores cooperativas, só que viviam muito dispersas e não tinham forma de se juntar. Aquelas raízes, apesar de lhes fornecerem a água e os sais minerais essenciais para a realização da fotossíntese, não as deixavam sair do lugar e a luz era cada vez menos. Foram morrendo uma a uma... já não conseguiam produzir o seu alimento. Já não conseguiam produzir oxigénio suficiente para respirarem e as vizinhas nunca o partilhavam.
       Todas as outras árvores, a viver em torno dos seus nós, deixaram de poder contar com a dádiva e partilha das árvores que sucumbiram. Apesar de viverem perto umas das outras, a solidão imperava. Deixaram de receber pólen das outras árvores. Deixaram de dar frutos... Ano após ano, a floresta foi ficando estéril. Hoje, a floresta deixou de ser floresta e é apenas um conjunto de árvores isoladas. Apenas lhe sobra a solidão e uma nesga de tempo...

sábado, 10 de março de 2012

Amigos do Paúl do Mar

        Mais um lugar fantástico e cuja magia se deve às suas gentes. Enquanto estive na Madeira, tive a sorte de ser professor de muitos alunos desta linda localidade. Hoje recordo-me do 5ºC da Escola EB1,2,3/PE Professor Francisco Manuel Santana Barreto - Fajã da Ovelha. Foram 2 anos memoráveis, pois guardo-os a todos como amigos especiais. Cresceram e hoje são homens e mulheres. Há dias o Danilo (Danny) e o Rogério (alunos desta turma), partilharam algumas fotos suas, que eu achei espetaculares... Agradeço-lhes esta partilha. Não as poderia deixar de publicar no meu "blog".
        Muita adrenalina... e espetáculo... É assim que deve ser a vida!!! Parabéns, amigos!




Rogério
Danny