Sabem?... Tenho a sensação que... no nosso país existem, atualmente, duas matemáticas em guerra, separadas por um muro, uma trincheira, quem sabe chamada Política! Sou apenas um gajo, um simples professor cuja opinião de pouco vale e nada interessa para a política educativa! Essa coisa de definir o futuro da educação para o país, fica para os professores universitários, para os Doutores e Professores Doutores, e para uns artistas que se apelidam de políticos, estejam eles ligados à agricultura ou à saúde. São todos tão bons... muito bons! Conseguem estar à frente de qualquer ministério! É um orgulho nacional termos artistas tão bons e "omni-eficientes"!
Este gajo (moi même), enquanto adolescente e jovem, nunca teve como projeto de vida, a ideia de ser professor! Cheguei a pensar em medicina, biologia marinha... mas professor... nunca! O sonho de meus pais foi, dar estudo aos filhos, ter um filho médico e uma filha professora! A vida e a vocação dos filhos encaminharam-nos para essas áreas, só que trocamos de área! Lecionei a minha primeira aula de Matemática em 1990, aos 5º e 6º anos de escolaridade. Havia sido convidado pela Diretora do Externato da Madalena, D.Cecília (minha ex-professora de Francês). Enquanto tirava o 12º Ano na Ilha do Faial, diariamente, regressava à Ilha do Pico, na "Espalamaca" ou no "Cruzeiro do Canal", para "dar" aulas de Matemática no turno da tarde. Recordo-me da minha primeira aula. Recordo-me de um aluno e conhecido da rua, já com 16 anos, o Sérgio, hoje um Homem do Mar, virou-se para mim e disse: "De qualquer merda fazem um professor!". Contra factos não há argumentos!. Era um facto ... eu era apenas um gajo que partilhava a rua com aqueles alunos... com quase a mesma idade! Tive de me afirmar... dar um murro na mesa... e fazer uma de mauzão, gritando: "Lá fora posso ser um merdas, mas cá dentro sou teu professor e quem manda aqui sou eu!"... Sabem? Aquilo até resultou... Hoje ainda resulta, e posso dar-me ao luxo de dizer que até hoje nunca expulsei um aluno da sala de aula. Se calhar, tenho tido os alunos mais disciplinados pelas escolas onde tenho passado... Não sei?! Que digam os meus chefes, ex-chefes e os meus colegas.
Logo nas primeiras semanas de aulas, fiquei fascinado e encantado pela relação que se estabelecia... Era um prazer enorme ir estudar... estudar a melhor forma de motivar os alunos para aprender Matemática! Não era difícil conhecer os interesses deles... pois, a minha idade aproximava-me às suas realidades! Era um prazer enorme... Cada dia que acordava, só pensava naqueles momentos da tarde, com os meus queridos amigos e alunos! Descobri a minha vocação.... Até hoje, apesar de ter passado por todos os órgãos pedagógicos e de gestão de uma Escola, nunca deixei de "dar" aulas de Matemática, aos 5º e 6º anos! Se me tiram os alunos... tudo deixa de fazer sentido.... Peço desculpa, pois desviei-me do tema inicial, mas, enfim... é só para perceberem que não passo de um simples professor, que o único prazer que levo da profissão, é encontrar um ex-aluno, passados uns anos, e ver um pedacinho de mim na vida daquela pessoa! De resto, para a opinião de muitos dos nossos políticos e ex-políticos, não passo de um "merdas" (como dizia aquele meu aluno). Pouco interesso... Pouco interessa a minha opinião... Não percebo "um boi" de educação!
Voltando às matemáticas... Um novo programa de Matemática para o Ensino Básico, entrou em vigor no ano letivo anterior. Mais uma reforma, mais alguém que quer deixar o cunho! Mais umas experiências com a esperança de melhorar as competências matemáticas dos nossos alunos, nomeadamente ao nível da comunicação, do raciocínio e da resolução de problemas matemáticos! Chegam novos chefes ao Ministério de Educação e acham que a Matemática que está naqueles programas é uma Matemática fraca. Começa-se a pensar em definir novas políticas e provar que a Matemática recém-instalada não tem valor! Tem sido assim... ao longo de anos e anos. Novo Governo... novas políticas! Fazem-se exames nacionais difíceis no primeiro ano de mandato para provar que as políticas anteriores não eram válidas, e vai diminuindo, de ano para ano, a dificuldade dos exames, ao longo da legislatura... Mesmo assim, os resultados continuam péssimos. Nunca se pensa a longo prazo!
Se me perguntarem... mas, qual a Matemática que faz mais sentido... A Matemática do Professor João Pedro da Ponte ou a Matemática do nosso Ministro de Educação, Nuno Crato? Respondo... nenhuma isoladamente! É muito importante o equilíbrio entre ambas! Por um lado uma Matemática do "aprender fazendo", por outro uma matemática do "fazer aprendendo"! Por um lado, alguém defende uma matemática onde o aluno através da descoberta tenta aprender matemática, não tendo tempo para conhecer muitas das ferramentas fundamentais, por outro lado uma matemática mecanizada, onde o aluno através do treino e do trabalho aprende a manusear essas ferramentas, mas raramente sabe para que servem! Diferentes visões e diferentes caminhos para chegar a uma só Matemática! Na verdade, um caminho poderá ser mais válido para um aluno, outro caminho mais válido para outro. A razão não está no caminho A ou no caminho B. Um dos grandes problemas do fracasso dos nossos alunos está na extensão e nos obstáculos que os caminhos propostos apresentam. Apenas atletas de alta competição (provavelmente aqueles que vão às olimpíadas da matemática) é que conseguem concluir um desses caminhos com verdadeiro sucesso, independentemente do caminho, com muito trabalho e dedicação! Para além dos currículos serem extensíssimos, parecem desenhados por pessoas que têm muitas dificuldades em "encarnar" os nossos alunos e perceber que continuam desajustados ao nível de abstração de grande parte da faixa etária dos nossos alunos. A solução jamais passa por dar mais do mesmo.... Mais horas de Matemática, como se isto resolvesse o problema do insucesso nesta área curricular.
Se me perguntarem... mas, qual a Matemática que faz mais sentido... A Matemática do Professor João Pedro da Ponte ou a Matemática do nosso Ministro de Educação, Nuno Crato? Respondo... nenhuma isoladamente! É muito importante o equilíbrio entre ambas! Por um lado uma Matemática do "aprender fazendo", por outro uma matemática do "fazer aprendendo"! Por um lado, alguém defende uma matemática onde o aluno através da descoberta tenta aprender matemática, não tendo tempo para conhecer muitas das ferramentas fundamentais, por outro lado uma matemática mecanizada, onde o aluno através do treino e do trabalho aprende a manusear essas ferramentas, mas raramente sabe para que servem! Diferentes visões e diferentes caminhos para chegar a uma só Matemática! Na verdade, um caminho poderá ser mais válido para um aluno, outro caminho mais válido para outro. A razão não está no caminho A ou no caminho B. Um dos grandes problemas do fracasso dos nossos alunos está na extensão e nos obstáculos que os caminhos propostos apresentam. Apenas atletas de alta competição (provavelmente aqueles que vão às olimpíadas da matemática) é que conseguem concluir um desses caminhos com verdadeiro sucesso, independentemente do caminho, com muito trabalho e dedicação! Para além dos currículos serem extensíssimos, parecem desenhados por pessoas que têm muitas dificuldades em "encarnar" os nossos alunos e perceber que continuam desajustados ao nível de abstração de grande parte da faixa etária dos nossos alunos. A solução jamais passa por dar mais do mesmo.... Mais horas de Matemática, como se isto resolvesse o problema do insucesso nesta área curricular.
Depois vem o grande flagelo... criou-se um sistema, onde tudo se consegue sem esforço, tudo se consegue sem trabalho (ver http://serounaoserverdade.blogspot.com/2011/12/educacao-o-essencial.html)! O Ministério de Maria de Lurdes Rodrigues culpabilizou única e exclusivamente os professores pelo insucesso! Criou os P.A.M.s (Planos de Ação para a Matemática), como quem diz "Os professores não fazem a sua parte, vamos pô-los a mexer". Na realidade, foi mais uma operação de cosmética para mascarar um problema... Não há plano de ação que valha, se não houver responsabilização das três partes fundamentais do processo educativo: o aluno, o encarregado de educação e o professor! Se todos cumprirem com a sua parte, tudo será mais fácil... e sem dúvida que, mesmo com a Matemática A ou a Matemática B, os resultamos melhorariam drasticamente!
Para além disso, culturalmente, o insucesso da Matemática transformou-se numa questão hereditária: "Meu filho, eu também já era má aluna a Matemática... teu avô também era um desastre..., nunca poderás ser bom a Matemática!" Tudo isto aliado à falta de trabalho e dedicação por parte dos alunos, bem como a desvalorização da Escola por parte dos pais, leva-nos ao fracasso na disciplina! Trabalhar é só para os alunos que têm pais exigentes...
Para além disso, culturalmente, o insucesso da Matemática transformou-se numa questão hereditária: "Meu filho, eu também já era má aluna a Matemática... teu avô também era um desastre..., nunca poderás ser bom a Matemática!" Tudo isto aliado à falta de trabalho e dedicação por parte dos alunos, bem como a desvalorização da Escola por parte dos pais, leva-nos ao fracasso na disciplina! Trabalhar é só para os alunos que têm pais exigentes...
Senhores Doutores, senhores Professores Doutores, senhores políticos... deixem-se de politiquices quando projetam o futuro da educação... Juntem todas as vossas matemáticas... deixem de obrigar os alunos a percorrer caminhos intransponíveis e criemos uma autoestrada não portajada, de livre acesso para todos.... uma Matemática com sentido, desprovido de conteúdos e teoremas sem qualquer interesse para as vidas futuras dos nossos alunos. A especialização na Matemática, deve acontecer de uma forma faseada, culminando, muito mais tarde com a via profissional escolhida, e nunca num primeiro Ciclo, com um exagero de Temas. Grande parte da Matemática que uma criança precisa é... a exploração do mundo, não precisando de o explorar todo, apenas o bocado de mundo que lhe pertence! Nesse mundo está o BRINCAR, e isso ela já não tem tempo para o fazer! É imprescindível dar a conhecer meia dúzia de ferramentas matemáticas essenciais para trabalhar no 1º Ciclo, para que as crianças se tornem especialistas nessas ferramentas. Não vale a pena lhes querer dar um baú de ferramentas, que jamais a sua idade física e psicológica conseguirá suportar esse peso! Confusas, deixam de saber para que servem todas aquelas ferramentas, e a "bola de neve" vai crescendo... Conhecendo apenas as ferramentas essenciais e a razão de existir das mesmas e sabendo utilizá-las em situações concretas, os alunos ficam aptos para construir matemática já a partir do 2º Ciclo (embora já o possam fazer no 1º Ciclo).
Um carpinteiro nunca poderá ser um bom carpinteiro se não tiver e se não souber usar as suas ferramentas. Como exemplo, o martelo é tão importante para o carpinteiro, como a tabuada é para o cálculo mental de um matemático (Ok... lá vêm os senhores Professores Doutores dizer ... que isso é passado. Relembro que sou apenas um simples professor que não percebe nada de pedagogia, mas sabe que existem mil e uma maneiras de aprender a tabuada, sem ser única e exclusivamente a "cantilena" do método tradicional)! Para que quererá o carpinteiro um fole de ferreiro? Se um dia precisar de um fole, não tenho dúvida que o procurará (e isto, sim, é aprender)! Depois vem a técnica... Técnicas para usar o martelo, técnicas para o cálculo mental... Depois vem o trabalho.... muito trabalho... para se tornarem bons carpinteiros, para se tornarem bons alunos e bons matemáticos! Mas.... tudo isto só fará sentido se antes falarmos da Matemática da Vida e das matemáticas que falei no meu post do dia 1 de Novembro de 2012, "Disciplinas Essenciais" (http://serounaoserverdade.blogspot.com/2011/10/disciplinas-essenciais.html) .
Unamo-nos num projeto a longo prazo, aproveitando o que de bom já existe. Não cortemos com tudo! Não queiramos resultados imediatos!
Um carpinteiro nunca poderá ser um bom carpinteiro se não tiver e se não souber usar as suas ferramentas. Como exemplo, o martelo é tão importante para o carpinteiro, como a tabuada é para o cálculo mental de um matemático (Ok... lá vêm os senhores Professores Doutores dizer ... que isso é passado. Relembro que sou apenas um simples professor que não percebe nada de pedagogia, mas sabe que existem mil e uma maneiras de aprender a tabuada, sem ser única e exclusivamente a "cantilena" do método tradicional)! Para que quererá o carpinteiro um fole de ferreiro? Se um dia precisar de um fole, não tenho dúvida que o procurará (e isto, sim, é aprender)! Depois vem a técnica... Técnicas para usar o martelo, técnicas para o cálculo mental... Depois vem o trabalho.... muito trabalho... para se tornarem bons carpinteiros, para se tornarem bons alunos e bons matemáticos! Mas.... tudo isto só fará sentido se antes falarmos da Matemática da Vida e das matemáticas que falei no meu post do dia 1 de Novembro de 2012, "Disciplinas Essenciais" (http://serounaoserverdade.blogspot.com/2011/10/disciplinas-essenciais.html) .
Unamo-nos num projeto a longo prazo, aproveitando o que de bom já existe. Não cortemos com tudo! Não queiramos resultados imediatos!
Um bem haja. Fica aqui apenas a opinião de mais um gajo que não percebe nada de educação!
Excelente reflexão Rui. Abraço:)
ResponderExcluirAmigo Nélio...
ResponderExcluirObrigado e as maiores felicidades para o teu projeto "Olho de Fogo". Que a chama nunca se apague!
Abraço,
Rui