Ditos irracionais... todos os outros animais (como que se a palavra "outros" os depreciasse em relação à nossa espécie). O Hominídeo assim os apelidou, auto-intitulando-se de racional, tornando-se numa espécie animal egocêntrica e dominante. Dita as leis ... destrói o seu habitat e o dos outros... mata os da sua espécie e todas as outras... e diz "somos racionais". Diz que apenas nós temos "sentimentos", desprezando tudo o que a Natureza lhe dá e lhe pode ensinar.
Desde criança considero-me um sortudo, sobretudo a partir dos meus 6 anos (quando vim viver para os Açores), por ter tido a sorte de ter caído num sítio, onde na altura havia ainda um extraordinário equilíbrio entre o Homem e a Natureza, onde a convivência com os animais me ensinou muito a enfrentar a vida de uma outra forma. Se me dizem: "tens comportamentos animalescos!"... O que posso dizer? Se se referem ao comportamento de muitos dos outros animais, só posso agradecer!!! Eh! Eh!
Sempre tivemos animais (dos outros) lá por casa. Na realidade todos os têm e não se apercebem... e quando se apercebem "Aiiii... uma aranha, Aiii... uma barata, Aiii... uma mosca...!" Aiiii, para quem? Coitado de todos estes insetos ditos repugnantes, que o mínimo que lhes espera é um "Tráaaas" de um mata moscas ou de um chinelo. Quando se construiu a habitação naquele local, os seus familiares já não viviam lá...? Somos mestres em ocupar o lugar dos outros... Enfim... já estou a divagar... deixa-me ir ao que interessa...
Para além dos animais que vivem livres na Natureza, os animais domésticos também sempre me ensinaram muito. Por isso hoje, a viver numa casinha por terras do Ribatejo, faço um esforço para que as minhas filhas cresçam rodeadas de animais. Cabras, ovelhas, pónei, cães (já são 6), peixes, galinhas e patos... espécies que temos tido cá por casa e que nos preenchem a vida!
O comportamento animal fascina-me! Em criança ficava muitas vezes parado a observar os animais. Aquele vôo planado dos nossos milhafres e de repente aquela queda livre, tipo flecha, para capturar o seu alimento. Aqueles morcegos ao fechar da noite, num vôo intermitente a caçar (sem ver) todos aqueles insetos. Aquelas cagarras num vôo rasante ao mar, com a pontinha da asa a tocar na água, à espera de enganar um peixe... Poderão pensar, mas o que têm, estes exemplos, de bom... Alguns até dirão: isso não é exemplo nenhum para o Homem, porque implica caça... morte... Amigos, até aqui os animais são fascinantes... Tudo isto se chama equilíbrio... equilíbrio dos ecossistemas. Se retirarem um destes animais destes habitats... graves consequências virão. São as leis da Natureza (as únicas que reconheço como perfeitas, como equilibradas)! Mas, muitos outros exemplos poderei dar, que nos servem de lição e que nos levam a refletir sobre a pertinência da designação de "animal racional".
Cuidamos bem dos nossos filhos? Amamos os nossos filhos? Na verdade há quem os abandone... há quem não os queira ou possa ter (por exemplo por falta de condições)... Nos outros animais acontecem coisas extraordinárias... Zelamos pelos nossos filhos? Por exemplo, uma cadela dá à luz 10 caezinhos (o que aconteceu cá em casa no dia 23 de Novembro último). A proteção daqueles bebés torna-se uma prioridade para aquela mãe. Sendo uma cadela dócil no dia a dia, naqueles primeiros dias após o parto, rosnava quando tocávamos naqueles lindos peluchinhos vivos! Era apenas um aviso: "Não lhes façam mal, ou eu passo-me!". Depois vinha a higiene, que muitos poderão considerar como nojento... Sempre que os bebés defecavam ou urinavam, aquela zelosa mãe limpava a zona, ingerindo estes excrementos! Quem não gosta de mudar a fralda dos filhos??? Quem era capaz de fazer tal coisa por um filho? Para além da higiene é uma forma que muitos mamíferos têm de confirmar se os filhos são realmente seus. O "sabor" ou o cheiro da urina e dos excrementos é uma forma de identidade, pois ao se alimentarem do leite materno, aquela é uma prova de que foram eles a mamar das tetas da mãe.
O mesmo acontece, por exemplo com as cabras. Se tivermos um cabrito órfão (por exemplo) e quisermos que ele se amamente de outra cabra, sem que esta o rejeite, teremos de dar leite dessa cabra ao cabrito. A cabra mãe (ok... lá está a malta a rir da expressão... respeitem os animais, ok!!!) cheira-lhe o rabo e reconhece que aquela urina e aqueles fezes, correspondem os seu leite. A partir daí reconhece-o como seu!
Um grupo de cachalotes nadam descansadamente à superfície. De repente sentem-se ameaçados por um barco que se aproxima ou por um predador... Para protegerem uma cria de cachalote, fazem uma formação circular e na vertical, deixando a cria no seu interior.
Uma mãe golfinho vê uma cria com dificuldades respiratórias ou mesmo morta. Desesperada, empurra-a para a superfície para a tentar reanimar.
Sobre exemplos que poderei apelidar de "amor materno" e que outros dizem que não passam de instinto animal... poderia continuar a escrever. E de espécies que mantêm o seu par por toda a vida??? Sabiam que aves como a coruja das torres ou as cegonhas, depois de acasalarem, mantêm-se unidos por toda a vida???
E a simbiose entre duas espécies que tinham tudo para ser inimigas??? Desde pequenino que pratico mergulho. Nadar com tubarões e ver a beleza e o equilíbrio dos seus movimentos fascina-me (sendo que os primeiros encontros aumentou-me imenso o meu ritmo cardíaco, o que para eles é um fator de stress e de alerta, pois é sinal de que poderá estar uma presa por perto). Vê-los acompanhados por uns peixinhos chamados rémoras é espetacular. Aquele tubarão é, diariamente, acompanhado pelo seu higienista oral, que lhe limpa os restos de peixe que lhe ficam presos nos dentes ou que se desperdiçam. Por sua vez... a rémora aproveita o alimento e a boleia deste lindo lamniforme, conseguindo fazer grandes e rápidas viagens sem se cansar muito.
E... uma moreia pintada que alimentei durante muito tempo, durante os meus mergulhos de caça submarina. Todos os dias, lá estava ela, naquele buraco ali junto da "Ponta da Baixa", à minha espera. Apanhava um sargo ou uma salema e lá lhe ia dar. Saía do buraco e vinha buscar aquele banquete... Um dia não veio... provavelmente alguém a tinha pescado... para minha tristeza! E os peixes que pesquei... com certeza que fariam falta a alguém!
Para terminar, faço uma homenagem ao meu primeiro cão, que veio de Sant'Ana (localidade da Ilha do Pico), quando eu tinha para aí uns 7 anos, num bolso do casaco de meu pai, naquela Casal 50. Ainda nem abria os olhos! Cresceu, sendo um grande protetor da família e da casa. Teria mil e uma histórias para contar sobre o Fiel, aquele pequeno cão de pelo curto, preto e branco. Uma delas... Uma das nossas galinhas fugiu para o quintal da vizinha Laurinda do outro lado da rua. Sem ninguém lhe dizer nada, invadiu o quintal da vizinha, e no meio de tantas galinhas, pegou na nossa e trouxe-a para casa! O cão surpreendia-nos quase todos os dias, nem que fosse com uma dentada em algum desgraçado que entrasse no nosso quintal sem autorização. Se meu pai estivesse por perto e dissesse: "Fiel.. não se toca!" ele acatava a ordem, ou então... teríamos problemas! Peço desculpa... não resisto em contar mais uma... Um dia meu pai recebeu o Sr. Sorrica lá em casa. Conversou com ele na rua um bocado e esqueceu-se de dizer "Não se Toca!". Entrou em casa seguido pelo Sr. Sorrica, e já quando este tinha entrado e estava a puxar o resto da última perna a ultrapassar a porta disse: "Aiiii Manuel, o filho da p*** já me mordeu"!
Amigos... não exagerem nos comportamentos animalescos mas, nunca esqueçamos... também somos animais!
Abraço
Delicioso...
ResponderExcluirObrigado por entrares e apreciares o meu cantinho, meu Grande Chefe.
ResponderExcluirDeixo aqui um vídeo que me marcou pelamúsica,pelas lindas paisagens do nosso planeta e vida animal, e pelo que estamos a fazer directa ou indirectamente aos habitats destes animais. A não perder ;)
ResponderExcluirhttp://www.youtube.com/watch?v=QGrF-NpOrvE
Silvia Louro
Sílvia... lindo e espetacular! Obrigado pela partilha!
ResponderExcluirP.S. Ainda não me esqueci de "A Fórmula de Deus"
Muitos humanos deviam aprender com os animais, esses sim são fiéis até á morte ao seus donos,e á suas crias, são pais dedicados e prontos a fazer de tudo para os salvaguardar!
ResponderExcluirA Tia também vive rodeada de animais. É uma excelente testemunha do quão fiéis eles são... aos seus filhos e aos seus "donos".
ResponderExcluirAbraço.