1 de Fevereiro de 1718. Freguesias de Santa Luzia e Bandeiras, Ilha do Pico. “Se sentiram por muitos dias grandes tremores de terra, e uns estrondos tão espantosos…a que elles chamam trovões secos” (Anónimo, 1881). “Quatro boccas na fralda da montanha do Pico, entre as freguesias de Santa Luzia, e das Bandeiras” (Macedo, 1981a). “N’aquella noite (1 de Fevereiro) começou o fogo a correr, e em menos de seis horas chegou o fogo ao mar” (Macedo, 1981a).
Ambas as populações viram a lava a descer a encosta. Pediram a Deus que desviasse aquele rio de lava das suas pobres e humildes casinhas. O lava escorreu entre as duas freguesias, formando o Mistério de Santa Luzia. Provocou estragos apenas em algumas adegas na localidade do Cachorro, junto ao Mar. Lá estava já construída a ermida de Nossa Senhora dos Milagres, datada de 1682. A escoada lávica que percorrera cerca de 9 kms até ao mar, passou junto à ermida sem lhe tocar. Desde então, no dia 2 de Fevereiro, as populações de Santa Luzia e das Bandeiras, saem das suas igrejas paroquiais, em peregrinação com o crucifixo, encontrando-se na ermida de Nossa Senhora dos Milagres. Alunos destas freguesias têm dispensa da Escola para integrarem esta peregrinação. Todos em conjunto, agradecem à Mãe de Deus de os ter poupado e pedem ajuda para que os protejam das forças da Natureza.
Para além das adegas destruídas, arrasou vinhas e terras de mato. Contavam os idosos, que uma terra onde pastava um boi que seria oferenda numa Promessa do Espírito Santo, foi circundada pela lava, tendo o gado à volta morrido e tendo este boi sobrevivido. Muitas outros pequenos "milagres" (ou coincidências para alguns) aconteceram....
Na vizinha ilha do Faial, na freguesia da Praia do Almoxarife, saíram em procissão até ao mar com a imagem de Santo Cristo, para pedir que aquele fogo que entrava mar a dentro não chegasse até eles!
Há mais de 20 anos que não estou presente para acompanhar aquela peregrinação. Acompanho-a com a minha saudade. Um ato de fé, de esperança, de crença... sem qualquer beatismo, onde o sentimentos perduram há quase 3 séculos!
Para além de explicado este fenómeno da Natureza, aquela noite de terror era também contado às crianças de uma forma fantástica. Meu pai, à semelhança do que os seus pais e avós já lhe tinham contado, dizia que umas criaturas (os "labregos") muito feias saiam da terra, das grutas por onde o fogo saiu no sopé da montanha, e desciam a encosta até ao mar, arrastando correntes e levando consigo todas as crianças que se portassem mal ou estivessem acordadas até tarde. No meu imaginário... eu conseguia reconstituir fisicamente essas criaturas demoníacas e imaginar o som das correntes... Eram apenas os "labregos"... Provavelmente portei-me sempre bem! Provavelmente adormeci sempre cedo! Não sei!? Só sei que nunca vi nem ouvi o raio dos "labregos"!
Para além das adegas destruídas, arrasou vinhas e terras de mato. Contavam os idosos, que uma terra onde pastava um boi que seria oferenda numa Promessa do Espírito Santo, foi circundada pela lava, tendo o gado à volta morrido e tendo este boi sobrevivido. Muitas outros pequenos "milagres" (ou coincidências para alguns) aconteceram....
Na vizinha ilha do Faial, na freguesia da Praia do Almoxarife, saíram em procissão até ao mar com a imagem de Santo Cristo, para pedir que aquele fogo que entrava mar a dentro não chegasse até eles!
Há mais de 20 anos que não estou presente para acompanhar aquela peregrinação. Acompanho-a com a minha saudade. Um ato de fé, de esperança, de crença... sem qualquer beatismo, onde o sentimentos perduram há quase 3 séculos!
Para além de explicado este fenómeno da Natureza, aquela noite de terror era também contado às crianças de uma forma fantástica. Meu pai, à semelhança do que os seus pais e avós já lhe tinham contado, dizia que umas criaturas (os "labregos") muito feias saiam da terra, das grutas por onde o fogo saiu no sopé da montanha, e desciam a encosta até ao mar, arrastando correntes e levando consigo todas as crianças que se portassem mal ou estivessem acordadas até tarde. No meu imaginário... eu conseguia reconstituir fisicamente essas criaturas demoníacas e imaginar o som das correntes... Eram apenas os "labregos"... Provavelmente portei-me sempre bem! Provavelmente adormeci sempre cedo! Não sei!? Só sei que nunca vi nem ouvi o raio dos "labregos"!
Os "labregos" também fizeram parte da minha infância!! era realmente assustador, tão inocentes que nós eramos, as crianças de agora já não acreditam em "labregos".
ResponderExcluirSandra Medeiros
Amiga Sandra e ex-colega de turma (5º ao 8º Ano),
ResponderExcluirÉ engraçado saber que na Madalena (Areia Larga) também passavam "labregos"... Pensava eu que os "Labregos" só andavam para os lados de Santa Luzia e das Bandeiras...
Foi uma alegria imensa este reencontro,
Abraço,
Rui
Como sempre gostei muito de ler o teu relato do nosso passado. Felizemente também ainda continua a fazer parte do nosso presente. Ontem, dia 2 de Fevereiro, foram muitos fiéis em peregrinação até ao Cachorro. Eu já náo via tantos há muito tempo. Espero que seja uma tradição que nunca acabe, porque todos nós tempos sempre razões para agradeçer a Mãe de Deus!
ResponderExcluirPS. Os "labregos" faziam muitas crianças portarem-se bem, e dormir com os ouvidos tapados para não ouvirem as correntes! Até na minha infância na América, meus pais sempre falavam neles no início de Fevereiro, ou melhor, quase sempre eram os meus irmãos mais velhos que começávam, só para me assustar! Eram muito malvados!!! LOL
Tia,
ResponderExcluirÉ bom ter notícias do 2 de Fevereiro e saber que ainda existem muitas pessoas a manter essa tradição e agradecer a Nossa Senhora dos Milagres.
Quanto aos "labregos", pelos vistos os verdadeiros "labregos" da tia eram os marotos dos seus irmãos. Penso que também fui o "labrego" de minha irmã!
Abraço
Lindo, a tua expriência com labregos.. Devias traduzir estes teus blogs em Inglês..
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