segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

O Meu Carnaval no Pico

        Tenho saudades do meu Carnaval no Pico. Era uma altura onde todos passavam a ser crianças, todos tornavam a vida numa brincadeira. Desde a pequenada (onde me incluía), até à minha avó... todos soltavam a criança que lhes ia na alma.
      Construíamos as nossas máscaras em cartão, procurávamos roupas esquecidas, tapávamos todas as partes do corpo... pois até as orelhas podiam ser reconhecidas! Depois era preencher espaços, entre as roupas e nosso corpo, para o deformar... 
        Para disfarçar ainda mais, havia a forma de andar... Era muito importante nos curvarmos (para disfarçarmos a altura) e arrastarmos uma ou as duas pernas... Últimos retoques, últimos ensaios! "Oh Manuel, vão te reconhecer pelo andar. Tens de disfarçar mais"; "Oh Maria, tens uma madeixa de cabelo de fora, deixa-me ajeitar"... Tudo preparado???
        Corríamos, à noite, as casas de conhecidos e família. Alguns anfitriões pareciam mostrar medo! Outros começavam a apalpar, para ver se era homem ou mulher. Nenhuma mulher deixava tocar nas mamas, e aquele encolher era um sinal! Mas, com a experiência, os homens também se encolhiam! Apalpavam as mãos para ver se tinham aliança. Os homens cumprimentavam com um aperto de mão, e pela força do aperto e tamanho da mão, tentavam descobrir se era homem ou mulher. O desafio era aguentar em casa do anfitrião até à saída, sem nos reconhecerem! Depois, lá retirávamos as máscaras, serviam-nos "filhoses" e uma "angelica" (apenas para os adultos e não podiam abusar)! Algumas pessoas não deixavam a malta entrar em casa, por desconhecerem quem se escondia por detrás das máscaras. Aí, um de nós mostrava a cara, enquanto o resto da família do anfitrião, continuava sem saber quem era o grupo.
        Já no final da noite... era altura de irmos para os bailes... Alguém controlava a entrada no baile. Nenhum grupo entrava sem se identificar. Depois era o prolongamento de uma noite de dança, enquanto o corpo resistisse ao calor da máscara e de todas aquelas roupas...
        Lá vinha a hora de retirar a máscara. Era a hora de desmascararmos a nossa identidade e partilharmos esse momento. Muitas surpresas, pois tínhamos, muitas vezes, idealizado outra pessoa por detrás de uma determinada máscara e afinal, em muitas danças... dançara com alguém que não era quem eu pensava!  E fora do Carnaval... alguém já teve essa sensação?
        Tenho muitas saudades do meu Carnaval...

13 comentários:

  1. Lindo Rui e tudo verdade! bjs

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  2. Humberta Sousa20 fevereiro, 2012

    Que lindo era mesmo. bj

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  3. Ana e Humberta,
    Duas picarotas que sem dúvida viveram estes momentos... Saudade... Abraço.

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  4. Sandra Medeiros20 fevereiro, 2012

    É verdade Rui, não havia quase nada, tínhamos que fazer tudo, lembro-me que quando íamos a casa de alguém levávamos palhinhas...não fosse alguém nos reconhecer...eheheh, e as filhós uuummhh...o melhor do Carnaval!!!

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    1. Sandra... as filhós... acabei de comer três das que a minha mulher acabou de fazer... estavam uma delícia e fofas, "iguaizinhas" às de minha Mãe!

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  5. Maria de Fátima Pereira20 fevereiro, 2012

    Rui, no Carnaval de há muitos anos, teu pai e eu fomos para Criação Velha, para o baile de Carnaval. Fomos na mota do Tio Frade. Quando saímos do baile, a mota não pegava nem de empurrão. Afinal alguém tinha posto pão na vela, debaixo do cachimbo, para fazer a gente andar a pé. Mas... eu já sabia da maldade, dei por isso. Só tivemos sorte. Isto foi quando teu pai foi ao Pico que namoro a tua mãe. Já foi há muito tempo. Bom Carnaval para ti e tua familia. bjs

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    1. Adorei a história... O que um pedacinho de pão consegue fazer... Um feliz Carnaval para toda a família. Abraço.

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    2. Maria de Fátima Pereira21 fevereiro, 2012

      A primeira vez que ele falou com tua mãe, eu estava com ele na mota em Santa Luzia. Ela ia no caminho e paramos a falar com ela. Ele já estava com o olho nela, por isso perguntámos a ela qualquer coisa, para ele ver bem (lol).
      O teu Tio José foi igual. Eu estava com ele no salão das bandeiras.

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    3. A Maria de Fátima foi a "fada madrinha" do casamento dos dois irmãos com as duas irmãs... e logo no mesmo dia! Obrigado, pois se assim não fosse eu não existiria... Abraço!

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  6. Só hoje é que tirei um pouco para ler isto. Era mesmo um grande folia!!! Uma vez eu ia sozinha de minha casa até á Sociedade a pé e já mascarada, pois encontrei um grupo de mascarados, e lá começaram a brincar comigo e empurrar, e com muito confiança comigo, eu primeiro fiz a minha parte, fazendo-me forte e parecendo que não tinha medo, mas a verdade, eu já não estava gostando nada, e o grupo não me largava, e tudo isto era já bem tarde. Pois depois de verem que eu já estava era assustada, lá se desmascarão, pois era o grupo com tua mãe e avó e mais pessoas de santa luzia! O depois era só gargalhadas!!! Tempos bons!

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    1. Maria de Fátima Pereira02 março, 2012

      Sãozinha, teu Pai gostava muito do Carnaval ele sempre se mascarava de mulher e seu sapato alto a ultima vez ke me lembro dele mascarado sentado na ladeira da rua de cima em frente ao botequim de meu pai porque os sapatos fizeram ele cair na ladeira ele com a sua perna de fora era de matar a rir lindos dias o tio Pedro só dizia kem aquela aquilo não e nosso Manuel.

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    2. É tão bom ouvir estas histórias da minha família. Obrigado pela partilha!

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    3. Maria da Rosa02 março, 2012

      É verdade Maria de Fátima, meu Pai gostava muito e então o nosso Tio Pedro, nem se fala!!! Esse então era de morrer a rir com ele!!! Ambos foram-se embora muito novos!!! Tenho muitas saudades, mas sei que eles estão com um sorriso bem grande, sabendo que agente pensa sempre neles e que nunca os esquecemos

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