terça-feira, 8 de novembro de 2011

Avaliação "(In)Docente"

"Há poucos professores excelentes em Portugal!" 1ª Página do jornal "I" de ontem.

        Excelente deriva do latim "excellente"- "que se eleva acima de"; "excellere" - "ser superior a". Passando os olhos pelo dicionário, é-lhe atribuído o sinónimo de "PERFEITO".

        Em primeiro lugar... o "Criador", apesar de moldar o ser humano à sua imagem, não o programou para ser perfeito! A perfeição não existe no nosso mundo humano ... e ainda bem, porque senão tudo estaria consumado, tudo estaria concluido. Costumo a dizer aos meus alunos, "a perfeição não existe, no entanto devemos caminhar sempre em busca dela ...". Conversa de maluco, é certo... mas a vida, a meu ver, só faz sentido se fizermos essa caminhada, de mãos dadas com o próximo, ora sendo ajudado, ora ajudando, sempre cooperativamente. Essa caminhada é feita na horizontal (pois a gravidade não permite ao Homem caminhar na verticalidade sem instrumentos auxiliares) e, assim sendo, ninguém se poderá "elevar acima de" ou "ser superior a"( de acordo com a origem latina da palavra "excelente").
        Ao lermos este título, (deixo a explicação do fenómeno para a psicologia) somos levados a pensar que "os professores portugueses são medíocres"! Com certeza que existem maus professores, mas com um título destes tendemos a generalizar.
       A notícia começa por "Um excelente professor que não tem a nota que merece é uma injustiça", dizendo que este é o receio dos sindicatos e da classe docente. Quando se fala em classe docente, não podemos generalizar, apenas porque recolhemos a opinião de meia dúzia de professores que contactamos... É uma injustiça para qualquer professor (e não apenas para os excelentes) que não tenha a nota que merece ... Eis aqui a essência do problema!

        A notícia dá muitas voltas sem tocar na maior ferida deste cancro. Para um professor ter a menção de Muito Bom (concordo com o termo) ou de Excelente (não concordo pelas razões acima), deverá ter duas ou três aulas assistidas. Essas aulas são previamente agendadas e combinadas com o avaliador, onde o professor tem a oportunidade de tornar uma aula numa "peça de teatro" e onde é possível criar um mundo fictício diferente dos contextos normais de aula. E as restantes aulas ... não faria sentido o avaliador aparecer em qualquer aula, sem aviso prévio?
        Depois... havendo cotas para Muito Bom e Excelente, o avaliador (do mesmo grupo ou departamento disciplinar) concorre para essas mesmas cotas! Fantástico! E depois... as cotas, pois, as cotas... Infelizes dos avaliadores e dos avaliados ... Imaginem, se as cotas às notas dos alunos dessem uns "troikos", o governo com certeza que limitaria os níveis a UM Cinco por ano de escolaridade. Se fosse professor de uma boa turma, e tivesse mais do que 1 cinco para dar (porque o mereciam), teria de recorrer à "técnica do penico"!
       A notícia tem um número que me surpreende pela positiva: apenas 40,8% dos professores pediram aulas assistidas. Não tenho dúvidas de que: muitos dos que pediram, fizeram-no por serem contratados ou por trabalharem longe da família e saberem que o seu futuro, ou a aproximação à residência, depende desta enorme trapalhada! Arredondando à dezena por excesso, faço parte dos 60% que não pediram aulas assistidas, sabendo que a Avaliação é determinante para subir na carreira! Acredito que o meu sentir é o sentir destes 60% e de muitos dos outros que foram "obrigados", pelas circunstâncias da vida!
É com muita pena que não fui avaliado naquilo que eu sei realmente fazer (na Componente Científico-Pedagógica), mas com uma avaliação “faz-de-conta”, sem que contribua para a melhoria das minhas práticas diárias enquanto professor, não existe qualquer interesse para mim ou para os meus alunos.
Sabem qual é o meu maior prémio profissional e sobretudo pessoal??? É ver que contribuí para um futuro melhor para os meus alunos e encontrá-los daqui a uma dúzia de anos e dar-lhes um abraço, sentindo que nos seus sucessos estão um bocado de mim.
Que professor se sentirá mais motivado após ser submetido à farsa deste modelo de avaliação? Com certeza que não serão aqueles que amam a educação e tudo fazem para a melhorar! É com muita tristeza e angústia que remo diariamente contra uma maré que nos afasta cada vez mais da Qualidade que tanto desejamos! Na verdade, neste mundo do “faz-de-conta” o que as pessoas sentem já não conta!

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