Naquela noite, não adormeci... O tempo parou... O breu instalou-se e o Sol ficou imóvel do outro lado do Mundo. Sentia-me magoado, traído na confiança talvez. Sentia-me muito triste... Um laço de amizade parecia querer desapertar-se. Do outro lado um ser extraordinário, um amigo, um ser humano como eu! Porquê? Será que não confia em mim? O que fiz eu para deixarem de confiar em mim? Mil e uma perguntas... mil e um minutos parados no tempo. Tinha consciência que o nó do laço não é daqueles nós que o tempo consolidou, que ficam tão entranhados e são impossíveis de se conseguir separar. Só tinha uma certeza... era um nó que eu não queria ver desapertado! Aquele nó fazia parte de mim. Aquele nó era para mim tão importante como todos os outros nós! Algo não batia certo! Tinha duas hipóteses: resguardar-me no silêncio e esperar que o tempo fizesse um "delete" ou correr no dia seguinte e dizer tudo o que me ia na alma! Muitas vezes, na vida, o silêncio pode ser um ruído ensurdecedor para uma amizade ou para qualquer outra relação! Grande parte das vezes, opto por esquecer e não valorizar. Desta vez não resisti a esse ruído. O Sol desprendera-se do outro lado do mundo e nascera, mas o breu continuou até eu desabafar com o meu amigo o que me ia na alma! Sentia-me leve... da conversa apercebera-me que nunca tinha havido intenção de falta de confiança. Eram apenas ações sem sentido para mim e com sentido para o meu amigo. Da minha conversa, resultou algo que eu temia: da mesma forma que não compreendera uma ação de um amigo, esse amigo não compreendesse a minha ação e a minha conversa daquele dia. Poucos dias depois, apercebi-me que o Sol acabara de se prender do outro lado do Mundo, desta vez, para o meu amigo. Acabara de lhe passar o meu sofrimento.
Somos sempre tão diferentes uns dos outros! Apesar de termos todos dois olhos, a visão de cada um de nós é sempre um olhar diferente! Quem somos... O que os sentidos nos deram e dão... Onde estamos... De onde viemos... Como agimos... Para onde caminhamos... Muitas vezes esquecemos que temos vivências muito diferentes... Por exemplo, o que sentimos quando vemos o Mar? Existem mil e um olhares, mil e um sentimentos... A mesma pessoa pode ter mil e uma maneiras de ver o Mar, dependendo de como o vê, quando o vê e como o vê. Se olho o Mar do topo da Montanha do Pico, sinto-me como uma gaivota que voa livremente no ar... Se vejo o Mar da varanda da adega do Arcos (Ilha do Pico, Açores), viajo no tempo e por mil e uma memórias, incluindo as que não vivi e que os meus pais e avós me deixaram... Se vejo o Mar quando mergulho em apneia, esqueço quem sou e pareço entrar numa vida extraterrestre... Se vejo o Mar, do Ribatejo - Salvaterra de Magos (e aqui preciso de estar de olhos fechados), sinto uma saudade imensa!!! Como é que o meu amigo vê o Mar? Como é que ele pensa que eu vejo o Mar? O que interessa isso? Hoje descobri que é fundamental saber isso... e muito mais!
Não podia deixar passar mais um fim de semana. Havia coisas a "remoer". Procurei-o hoje! Apercebemo-nos do quanto sofremos ambos com estas tretas. Chegámos à conclusão que ainda não tivemos tempo suficiente para nos conhecermos. Chegámos à conclusão que temos de beber mais umas minis juntos.
Hoje, descobri que temos diferentes formas de ver o Mar. Descobri que isso influencia quem somos e como agimos. Somos diferentes com sentimentos comuns... O seu coração pode ter uma pulsação por minuto diferente do meu, mas ambos querem a amizade!
Depois dei por mim a pensar... O nó nunca teve laçante... A volta do nó é que poderia não ser a mais adequada... Em cada relação deve haver um nó adequado. Talvez estivéssemos pendurados por um "lais de guia" (aquele nó que, por mais que se force o cabo, é sempre possível desapertar a qualquer momento), não sei..?!. Hoje ficamos a conhecer melhor a bitola de cada um dos nossos cabos. Após isso, tivemos a coragem de desatar o nó e reatar as cordas com um tipo de nó mais forte e adequado a essas diferentes bitolas (Nó de Escota).
Obrigado amigo, por me quereres ouvir... Obrigado por teres partilhado teus sentimentos... Obrigado por me teres deixado partilhar os meus!
Realmente, "nós" humanos somos mesmo complicados!
Nó de Escota |
Realmente, "nós" humanos somos mesmo complicados!
A tua analogia foi perfeita quando ligaste os nós da navegação às relações humanas. Se já achava que cada relação é uma relação, que cada amigo é um amigo, e que apesar da palavra ser igual para diversas pessoas o nível, o tipo, ... não sei bem qual a palavra... o nó é diferente. Não deixa de ser um nós mas são nós com caraterísticas diferentes uns dos outros, que têm as suas funções especificas, que ocupam lugares distintos nos nossos corações e apenas isto. Fiquei ainda mais em paz. Não fossem estes multi olhares, sentires, perceções, sensibilidades e os nossos amigos não nos enriqueceriam como enriquecem. Obrigada amigo por partilhares o que de mais intimo habita em ti e me ajudares a crescer com as tuas reflexões... com as tuas experiências de vida... obrigada pela tua generosidade.
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