Quando falamos de Escola, quase sempre a associamos à ideia de aprender, estudar, "marrar" (ato momentâneo que o tempo muitas vezes nos apaga da nossa memória). Sem qualquer sombra de dúvida que Escola é isso, mas vai muito para além disso! Obviamente que, na vida, tudo se consegue com muito trabalho, muito esforço e muita dedicação (sem claro falar sobre alguns senhores que todos conhecemos e nos tentam tramar a vida diariamente)! Contudo, antes de falarmos destas coisas, importa viajarmos até às nossa raízes, aos nossos alicerces, à nossa essência... a essência de sermos humanos.
Nenhum ser humano escolhe berço para nascer... Podemos nascer numa família que não nos dá todo o amor necessário para crescermos em equilíbrio. Amor em equilíbrio é sentir o abraço de aconchego, mas não menos importante, amor em equilíbrio, é aprender a perceber o valor do "não", para nos prepararmos para os muitos "nãos" que a vida nos traz, depois de deixarmos a casa dos nossos pais!!! Quando crescemos em desequilíbrio, o nosso coração tende a ficar escondido. Como forma de defesa, começa a vestir capas e mais capas e corremos o risco de nos tornarmos em indivíduos rudes e com problemas de integração social. Beijinhos e mimos a mais, não conhecendo o "não", as regras e os limites, podem conduzir a essa situação... Da mesma forma que viver reprimido ou enclausurado no "não", sem conhecer o abraço, pode levar a criança ou jovem a vestir tais capas.
Quando me chegam às mãos turmas de alunos com comportamentos ditos indisciplinados, é uma tarefa complicadíssima levá-los a olhar para o seu coração, devido às inúmeras capas que foram vestindo. É um caminho penoso e demorado para conseguirmos partir, aos poucos, cada uma daquelas capas. Ninguém parte pedra, apenas a conversar com a pedra ou com plumas de galinha. Temos de buscar o equilíbrio... Numa primeira fase temos de ser "duros" e impôr limites, mesmo que seja necessário um bom "puxão de orelhas". Isto é Amor... Pouco a pouco, as capas vão se partindo e começamos a dar aquele abraço por cada capa destruída. Há um dia... e esse dia é o dia do grande Milagre, quando aquele aluno não só consegue viver olhando seu coração, mas invade-nos o nosso, apoderando-se de um dos seus cantinhos.
Peço desculpa por começar já a divagar, mas penso ser importante contextualizar a essência do ser humano, viajando à origem de muitos problemas, antes de falarmos em "marrar"/estudar. Este ano, coisa que não acontecia desde o ano 2000, atribuíram-me uma direção de turma dita normal. O trabalho feito pelas professoras do 1º Ciclo foi extraordinário, pois recebi-os sem capas a tapar-lhes o coração. Podem alguns ter dificuldades no "marranço", mas mais importante do que isso, eles têm lá tudo... eles não têm medo de mostrar o que lhes vai na alma ou no coração. Amuam com facilidade, choram, cantam... São transparentes... Para chegarmos a este ponto, a Escola foi sem dúvida importante, mas mais importante são as raízes dos alunos, a Família... Nesta turma existe um grande grupo de pais que educam os seus filhos prevenindo-os de vestir capas. Por contágio, alguns dos outros alunos que não têm essa sorte, acabam também por não as vestir (para já). Infelizmente, a vida ensinou-me que a adolescência e a puberdade, se não existir o equilíbrio que falei atrás, poderão ser as obreiras dessas capas. Há que prevenir para que elas não sejam vestidas, pois vesti-las é muito fácil, parti-las é uma "carga de trabalhos".
Hoje foi um dos melhores momentos de Escola com alunos que passei este ano letivo... Sem "marranços", embora com alguns "malhanços", tive uma oportunidade de fazer uma viagem às raízes... à Família e com a Família de cada aluno. Na última reunião de encarregados de educação, concertamos uma série de estratégias no sentido de prevenir que os alunos vestissem capas e consequentemente, encarassem a Escola como algo que nos pode dar muito prazer, fruto do nosso trabalho e dedicação (esta é a filosofia que os professores do conselho turma partilham, embora por vezes, e numa primeira fase, alguns pais podem não compreender). Programámos um passeio BTT/Geocaching pelo Canal de Rega do Rio Sorraia.
O grande dia chegou, dia 1 de Dezembro de 2012. 9h00 desta manhã fria, pais e alunos extraordinários concentraram-se em frente à Escola. Pais disponibilizaram-se para transportar bicicletas até ao ponto de partida, muito perto da Aldeia do Peixe, ali mesmo junto ao Rio Sorraia. O grande objetivo era fazermos o percurso de 5 kms e regressarmos (total de 10 kms), encontrarmos 18 caches, descobrirmos pistas para 2 caches bónus e encontrar uma 19ª cache que continha as coordenadas de uma 3ª cache bónus (total de 22 caches). Foram formadas equipas familiares e rotatitavamente empunhavam o GPS até encontrarem cada uma das caches. Fizemo-las todas! Algumas avarias... correntes partidas e arranjadas à pedrada... um pai que viu os rolamentos da roda partidos, fez mais de 8 kms a pé... um cão que nos acompanhou ao longo de todo o percurso e à hora do almoço decidiu fazer de penico, um capacete que estava pousado no chão... uns "malhanços" com amortecimento das silvas... muitas manchas de lama na roupa... Nada disso foi problema, porque este grupo acabou de alcançar uma grande vitória. Cada um saiu vencedor... todo o grupo venceu. Todos conseguiram... concluir este 1º grande desafio. Chegados à Escola, já passavam alguns minutos das 16 horas, começaram a surgir muitas ideias para um próximo encontro a realizar no 2º Período...
Foi apenas uma pequena etapa de um longo caminho a percorrer. Quando fazemos as coisas de alma e coração, o trabalho, as dificuldades e os obstáculos dão-nos um prazer incrível, porque tudo se torna mais fácil quando todos fazemos a mesma caminhada: Alunos, Encarregados de Educação e Escola. Um muito obrigado a todos pelo dia de hoje.
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Tudo preparado... |
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1ª Avaria (início da atividade) - Corrente partida... um alicate, duas pedras e arranjada a avaria! |
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Quem disse que a lama era problema? A pé ou de bicicleta... até tinha a sua piada! |
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1ª Cache... Onde está ela... Será que está lá em cima? |
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Muita perícia ali à beirinha do Canal. Um pequenio desvio e as coisas complicavam-se! |
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As bicicletas descansam, enquanto se procura uma cache... |
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O cão que nos acompanhou durante todo o percurso. Era esquisito a comer... parecia querer apenas companhia! |
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O cão procurava companhia, ou então um penico! Alçou a perna para este capacete, na primeira oportunidade que teve! |
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Não havendo mesas... um joelhinho de um pai dá sempre jeito para registar uma cache! |
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Lá está ela... escondida sobre este tronco! |
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O percurso já fazia lembrar algumas estradas de Marinhais que estão por alcatroar! |
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Acho que a cache deve estar por aqui! |
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Mais um registo de uma cache. |
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Prova nº1 - Dá-lhe, Lama! (nada a ver com o Dalai Lama) |
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Prova nº2 - Dá-lhe, Lama! (nada a ver com o Dalai Lama) |
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Prova nº3 - Dá-lhe, Lama! (nada a ver com o Dalai Lama) |
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Final do percurso... ou então o início de uma caminhada de 2 anos!
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Estaremos na direção certa? |
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Lindo !! Famílias e o professor na mesma página!!"
ResponderExcluir"One hundred years from now, it not matter what kind of car I drove,what kind of house I lived in,how much was in, my bank account, nor what my clothes looked like. But the world may be a little better because I was important in the life of a child."
ResponderExcluirTens veia de escritor, Rui. Começa a publicar o que escreves...
ResponderExcluirLivia adoro ler o ke ele escreve.
ExcluirOlá!!! Já tinha saudades da tua escrita. :)
ResponderExcluirDia inesquecível e muito agradável !!! Um muito obrigado e um bem haja a todos os participantes e claro ao responsável por isto tudo, o DT Rui Rosa !!!!"
ResponderExcluirSoberbo!! Só mesmo tu! Só mesmo de ti...
ResponderExcluirBem-Hajas
Abraço!
Lindo Priminho adoro ler tudo o que escreves...you´re the best <3
ResponderExcluirFoi um dia brutal...temos que voltar a repetir...
ResponderExcluirbrutal mesmo. da proxima vez levamos fogareiro ás costas
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