Passamos parte da nossa vida em busca do que não temos ou do que gostávamos de ter. Na verdade, todos buscamos a felicidade e justificamos a sua ausência, com base naquilo que não temos. Não tenho dinheiro... Não tenho carro novo... Não tenho políticos que respeitem o meu trabalho... Não tenho quem me ame o suficiente... Não tenho... Não tenho... Não tenho... Quanto mais "não tenhos" tiver ou pensar que tenho, mais infeliz se torna cada passo da minha caminhada, se é que os consigo dar! Deixo de ter o discernimento de focar no meu projeto de vida, no meu objetivo, na minha meta... não tendo olhos para ver tudo aquilo que a vida me deu e que os meus olhos não deixam que meu coração veja!!! À medida que os janeiros passam, a vida tem me ensinado que por menos ou mais que tenha, toda a minha felicidade me persegue, parecendo que eu próprio fujo dela! É incrível como temos medo de ser felizes!!!
Desde muito pequenino sonhei e construí a minha "corda da vida"! Penso que essa capacidade de projetar a vida, ensinada por meus pais, ajudou-me imenso a ter o tal fio condutor ("corda da vida"), para me segurar na caminhada. Aqui e ali alguém se liga através de nós que me seguram e me tornam mais fortes e firmes os meus passos... Desse projeto sempre fizeram parte 4 fios estruturantes: estudar; procurar uma profissão onde me sinta bem a transformar o meu pedacinho de mundo; encontrar a minha cara metade para constituir família (vivendo sempre juntos); e viver junto dos meu pais e das raízes que me deram vida... Resumidamente, eram estes os principais fios com que comecei a entrelaçar para construir a minha "corda da vida"... Infelizmente... e lá vou eu para as coisas que "não tenho"... um desses fios ficou em "standby", pois também as prioridades que temos de estabelecer, leva-nos por vezes a continuar a construir a corda com menos um fio estruturante, enfraquecendo-a!!! Sempre foi minha prioridade viver agarradinho e junto da minha querida esposa e filhas, embora a profissão de professor seja tramada para o fazer cumprir. Desde o nosso casamento, corremos Madeira e o fim do mundo, passando por muitas escolas, mas a sorte e muitas continhas deixaram-nos sempre a trabalhar na mesma Escola juntos... à exceção do ano (1997), quando tentei ligar o fio "Raízes" à minha equação de vida... Quis o destino e a sorte que eu ficasse colocado nos Açores e a minha querida Esposa no Continente (por falta de vaga)! Desde então, passou a ser nossa prioridade ficarmos bem juntinhos, nem que fosse na "Conchichina"! Poderia ter estabelecido como prioridade ter continuado com o fio "raízes", mas nunca poderia deixar para trás ou perder o fio "Família: Esposa e filhos". Este estabelecimento de prioridades leva ao atormentar-me com o que "não tenho"... "Não tenho" na mão, o meu 4º fio estruturante de vida!!! "Não tenho" o fio Raízes... O tempo passa e não o consigo agarrar e voltar a tentar entrelaçá-lo... Não consigo... e a vida não quis que eu o fizesse...
Aprendi que nunca seria feliz se passasse a vida concentrado no fio que "não tenho" na mão! Aprendi que a minha mente não poderia estar focada nesse fio (embora nunca o perca de vista), correndo o risco de perder a minha grande batalha interior, não tendo energia e força suficiente para continuar a entrelaçar os outros três fios... Se isso acontecesse, deixaria de ter fios... Deixaria de ter corda... deixaria de ter vida...
Aprendi a ver a beleza dos outros três fios que tenho!!! Sou um sortudo!!! Tenho em mãos, 3 dos 4 fios com que sempre sonhei! Todos os dias dou o meu melhor para os fortalecer e isso dá-me toda a alegria do mundo para viver. Agradeço a Deus por me ter ajudado a definir prioridades e a focar no que tenho a sorte de ter!!! O amor que a "corda da vida" me retribui ... é razão suficiente para seguir em frente!!! Na realidade, o 4º fio, apesar de não estar na minha mão, tem me acompanhado, embora não esteja entrelaçado... Aprendi a ser uma planta aérea, desprendida do solo daquelas terras férreas da Ilha do Pico... É apenas isso, porque todo o Amor de Pai, Mãe, Irmã, sobrinhos e Família... nunca deixou de estar presente!!! Agradeço à vida!
Enfim... "Não tenho" sono... Isso é apenas mais um "Não tenho" que aprendi a viver sem lhe dar importância... Apesar de me sentir cansado durante o dia... Deixei de me preocupar com esse "não tenho"!!! É apenas o meu relógio analógico/biológico que nunca se adaptou à era digital!!!
Um grande abraço a todos... Esqueçam os vossos "não tenhos"!!! Concentrem-se no pouco ou muito que têm... nem que seja na energia escondida para entrelaçar os fios da vida!!!
Obrigado!
ResponderExcluirGrata.Texto claro, lúcido e comovente. Sabes que não é preciso muito para me deixar de lágrima no olho. Aconteceu a partir do 2º parágrafo. Uma lição de vida entre todas as que tens postado e partilhado. Percebi hoje que sou uma mulher de sorte porque são poucos os "não tenho", comparando-os com os "tenho". Aprendi que o que importa é quem sou, o que tenho feito, dado, construído à minha volta para mim e para aqueles que amo. Grata.
ResponderExcluirObrigado Emília!!! Abraço!!!
ExcluirVerdade. Facilmente nos distraímos. Essa sua capacidade de ver e querer deixa-me envergonhada, porque nem sempre consigo ter essa determinação na minha vida. Uma grande lição, professor. devia escrever um livro.
ExcluirLove u meu sobrinho ... eu também olho é para tudo que tenho ... e é muito valioso e todos os dias dou graças a Deus por isso, o que não tenho, não vale nada, porque afinal sou feliz com, o o que tenho!
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