quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Confiança

        A Confiança é um valor precioso numa relação de amizade... Nunca poderei falar de Confiança numa relação... quando a minha alma não bate em sintonia com o ritmo cardíaco do próximo. Tem de haver reciprocidade deste processo mágico... Não havendo, de nada serve um abraço a invocar a Amizade... Entramos no "Mundo do Faz de Conta" e se alguma coisa me incomoda é o "Faz de Conta"... "Fazer de Conta" numa relação dita de Amizade é um dos atos mais cruéis da humanidade e das mais dolorosas.
        Agradeço a todos que até hoje nunca deixaram de acreditar em mim. Agradeço a todos esses amigos, que nunca duvidaram da minha palavra. Obrigado a toda a minha Família, da qual fazem parte aqueles amigos que apesar de não terem o mesmo sangue, esse sangue nunca rejeitou a entrada da minha alma nos seus corações. Todos vós vivem no meu coração. Obrigado pela Confiança!

"A confiança é um ato de fé, e esta dispensa raciocínio." (Carlos Drummond de Andrade)

"Quem perdeu a confiança, não tem mais que perder." (Públio Siro)

"A amizade sem confiança é uma flor sem perfume." (Laure Conan)

" A maior necessidade deste mundo é de confiança e amor. (André Gide)

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Memórias da Minha Primária...

Natal de 1978 - Alunos da Primária de Santa Luzia
Cânticos de Natal no Salão Paroquial das Bandeiras
        Como o tempo passa... Recordo-me do primeiro dia de aulas dos primeiros anos escolares... Um arrepio que entrava na minha barriga e uma vontade enorme de não largar aquele cordão umbilical que me ligava à minha família! Chorava e pedia a minha mãe que me desse mais um dia... aquelas chantagens que qualquer criança de 5 anos sabe muito bem fazer... Tenho a certeza que minha mãe ficava com um enorme aperto no coração (pois já o senti), mas não havia hipótese... estava na hora de me fazer à vida... Depois... Depois, tudo se entranhava... tudo passava a fazer parte...
        Foi assim no Kindergarten da St. Joseph´s School em Yonkers, Nova Iorque, quando tinha os meus 5 anos... Foi assim no 1º Ano na Escola Primária de Santa Luzia (Ilha do Pico, Açores)... foi assim no 4º Ano, novamente na St.Joseph´s School...
        Dois mundos completamente diferentes, com recursos, concepções e formas de encarar o ensino incomparáveis...
        St. Joseph´s School, era uma escola com eletricidade, água na ponta da torneira, salas com um enorme conforto, com aquecimento, com imenso material pedagógico e com janelas que pareciam viradas para os quatro cantos do mundo. 1977, Santa Luzia nem a uma Escolinha do Salazar tinha direito. Como me recordo daquele primeiro dia de aulas do meu 1º Ano! A minha nova Escolinha era de pedra, um edifício de dois pisos, sendo a sala de aula o primeiro, sobre traves de castanho e um soalho que rangia em cada uma das nossas passadas. Era uma sala ampla, escura (sem eletricidade), sem água canalizada, fria e arejada, com mesas de plano inclinado e um quadro de ardósia... O "WC" era mesmo ali ao lado, depois de descer os degraus do balcão de pedra, uma retrete também em pedra, com o característico banco a correr de uma parede a outra e com um buraco circular... Nesta altura, em Santa Luzia, eram dois os edifícios da Primária... A minha Escolinha (Lado da Igreja), onde durante muitos anos foi a "Botequim da Isabel" e a Escola do Lado do Lajido, onde hoje mora a D.Aurora e o Sr.Fraga. Nunca mais me irei esquecer da minha professora do 1º Ano, a D. Helena. Ela conseguia transformar aquele mundo inóspito, num mundo cheio de vida e de cor. Ela conseguia nos incutir o gosto e a vontade de aprender. Aprender a escrever, aprender a "fazer contas", aprender a tabuada... e chegar a casa e ver a alegria de meus pais pelo que tinha aprendido, darem um reforço positivo e a mostrar a importância destas ferramentas para a vida. Eram estas as poucas ferramentas que a Escola nos dava, mas sem dúvida que qualquer um as sabia manusear e para que serviam! Hoje, o Sistema é desonesto, quer ensinar e obrigar as crianças a transportar 1001 ferramentas, quando uma mala de ferramentas de uma criança apenas tem lugar para meia dúzia delas...Guardo os meus primeiros cadernos diários... Uma delícia... Um ato de amor... é a única expressão que me ocorre...
        Durante o meu 2º ou 3º ano (não me recordo bem), um novo edifício escolar foi construído. Foram minhas professoras a D. Luzia e a D. Maria Augusta. A D. Maria Augusta era um mulherão de quem todos tinham muito medo. Acho que foi das professoras mais disciplinadoras que tive até hoje... Talvez pecasse pelo exagero...
        1980... Acabara de transitar para o 4º Ano. Meus pais foram um ano aos Estados Unidos... Foi como começar tudo de novo... Regressava aquele Mundo repleto de condições... Aquele arrepio na barriga... Levava a barreira da Língua, pois em casa sempre falei Português... Voltei a encontrar muitos dos colegas que tinham feito comigo o Kindergaten... Lembro-me do Filipe (Lusodescendente), da Heather, do Sean, do Genaro... A minha professora era a Miss Francis, uma senhora com um sorriso enorme, loira e sempre com os seus óculos "semidescaídos" sobre o nariz... Depressa ela tirou-me aquele arrepio da barriga, e pôs-me à vontade... Para além da aprender a "fazer contas", aprender a tabuada, aprender a ler e a escrever (ferramentas estruturantes, tal como em Portugal)... trabalhava-se muito à base de projeto. Recordo-me de um projeto, onde estávamos a estudar o Deserto do Sahara e um dos seus povos nómadas: os Tuaregues... Lembro-me de fazer uma maquete de um acampamento tuaregue... lembro-me de descobrir porque as suas tendas tinham bases quadradas (pois sendo quadrados, utilizam muito menos pano- perímetro- e conseguem uma área muito maior)... Depois havia dinheiro para materiais... que estavam à nossa disposição e nos davam largas à imaginação... Foi um ano letivo de muito trabalho... 
        Hoje vejo o meu "Boletim de Avaliação" do meu 4º Ano dos Estados Unidos e questiono-me sobre a exigência que o Sistema em Portugal tem para com os seus estudantes... A partir dos 49%, consideramos que o aluno tem desempenho positivo... Aferimos o sucesso a partir dos 49%... Apenas para reflexão, deixo aqui o meu Boletim de Avaliação do 4º Ano dos Estados Unidos... Reparem na Escala de Sucesso... Se fosse aplicada cá, qual a percentagem de Sucesso? Internacionalmente, a nossa imagem seria um desastre (65% a 70% - "Poor"; Abaixo dos 65% - "Failure").



        
        Regressei no ano seguinte a Portugal, depois de um ano de muito trabalho e apesar da barreira da língua, consegui um bom desempenho no 4º Ano, tendo transitado para o 5º Ano. Curioso... Apesar de ter transitado para o 5º Ano, as minhas professoras do 1º Ciclo de cá, aconselharam os meus pais no sentido de eu repetir o 4º Ano cá, pois havia perdido um ano de Português. Meus pais, com um enorme respeito pelas professoras, acabaram por respeitar essa opinião... Por um lado aceitei bem porque, assim, ficaria na minha antiga escola e não teria de sentir novamente aquele arrepio na barriga por ir para uma nova Escola (5º Ano). Por outro, fiquei muito triste e nunca compreendi tal conselho... Nesta repetência injusta, recordo-me de muitas desaprendizagens que fiz... Deixo um exemplo... sabia fazer o algoritmo da divisão (à moda dos Estados Unidos que era muito mais fácil e compreensível), obrigaram-me a reaprender o de cá ... Hoje não tenho qualquer dúvida que foi um ano perdido da minha vida escolar...
        Na minha primária, tive a sorte de experimentar dois sistemas educativos diferentes. De um lado do Atlântico um "Mundo Rico"... do outro um "Mundo Pobre"... Se me perguntassem hoje ou na altura, onde preferia viver? Com toda a certeza que preferiria o "Mundo Pobre", pois na maior parte das vezes a riqueza não está nos bens materiais.... No "Mundo Pobre", eu tinha Liberdade para aprender na Escola da Vida... Brincar livremente no campo... ordenhar as cabras... descer a Ladeira do Cabrito na minha Mota com Rodas de Madeira... subir os pinheiros do quintal e construir um castelo lá no cimo... usar uma cana de bambu para apanhar os meus primeiros peixes... jogar futebol com a bexiga do porco...
        Sem dúvida que esta foi a melhor Escola que tive até hoje! Gostaria tanto que as minhas filhas tivessem a oportunidade de a frequentar!
        

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

O Menino Que Apenas "Gostava" de Gomas...

        Era uma vez, um menino que apenas "gostava" de gomas... Desde muito pequenino e logo na altura de lhe dar a experimentar o sabor de alimentos sólidos e passar à fase das papas, chorava e fazia birra sempre que a mãe lhe tentava dar sopa ou creme de legumes, frutinha, carne, peixe... Aquela mãe tentara mil e uma receitas, mas se o menino chorava, logo desistia à primeira colher e ia a correr confecionar algo diferente. Na realidade, por mais que tentasse, o menino apenas deixava de chorar quando vinha o Cerelác.... Mais tarde, ao aprender a comer de colher, faca e garfo, continuou a fazer as birrinhas à hora das refeições. Mal a mãe colocava um novo prato à mesa, o menino chorava porque não gostava da comida. Mesmo sem experimentar o sabor de um prato que fora confecionado com muito amor, dizia que não gostava... Voltava a Mãe a confecionar novo prato e para despachar acabava sempre no Fast Food! Era a única forma de ver o seu filho (aparentemente) feliz... Hamburguer, Salsicha, Ovo Estrelado e Batata Frita... Sopa... nem cheirá-la! Sobremesa? Fruta? Nem por sombras... pois apenas umas "gomas" o satisfaziam... Beber Água? Sumos Naturais? Que horror... Coca-Cola era a única coisa que lhe acalmava as birras e descansava a Mãe...
        Na idade escolar, e apesar de ser aluno subsidiado pelos Serviços de Ação Social Escolar e de ter uma refeição completa e equilibrada de borla, se não fosse obrigado pela escola a tirar senha de almoço, não o faria... Assim, levanta o tabuleiro com sopa, prato principal e fruta, remexe um pouco os alimentos e devolve-o como o recolheu, argumentando que não gosta da comida. Uma das funcionárias da cantina ainda diz... "Vá lá... pelo menos comeu a fruta!":.. Sim levou a fruta, mas apenas para distrair o pessoal, pois esta peça acaba sempre num caixote do lixo ou serve de arma de arremesso...  Após sair do refeitório e porque a Mãe faz-lhe as vontadinhas todas, tem autorização para sair da Escola, dirige-se ao Café mais próximo para comprar umas "gomas" e uma Coca-Cola... A Mãe fora avisada pela Diretor de Turma deste comportamento do filho, mas alega que a culpa é da Escola e da falta de qualidade dos refeitório, quando todos os adultos que lá almoçam atestam qualidade! Esta criança vai crescendo com graves carências nutricionais... Serão apenas carências nutricionais? Mais grave ainda... são carências a todos os níveis, sobretudo ao nível do desenvolvimento emocional, pessoal e social. De acordo com a OMS, "Saúde é um estado de completo bem estar, físico, mental e social, e não apenas a ausência de doença ou de enfermidade"! Tecnicamente, diria que esta criança é uma criança doente a todos os níveis, a precisar urgentemente de ajuda... Aquela Mãe ao não querer contrariar e balizar alguns comportamentos do seu querido filho, necessita que alguém a faça ver que o seu filho é uma criança em risco de delinquência e que a ajude, colaborativamente, a encontar estratégias que reeduquem o seu filho, enquanto é tempo... O tempo urge! A irreverência da adolescência e da puberdade não perdoará, se esse trabalho não for feito...
        Qualquer semelhança desta imagem que acabei de descrever com algum caso da realidade é pura coincidência, mas uma coisa é certa... são muito mais comuns os casos do que possamos imaginar! O que mais me aflige, e não fui inocente ao trazer aqui esta imagem, é que todo o nosso Sistema Educativo está assente nesta filosofia... "quando o menino não gosta do prato (mesmo sem o provar), recusa-se a comê-lo, sendo o professor sempre obrigado a cozinhar novos pratos, acabando sempre num prato "Fast Food", ou melhor dizendo... "Fast Education"! É uma triste realidade, mas é o que se constata em grande parte das salas de aula portuguesas! Por mais que se diversifique de estratégias, por mais que se faça o pino, muitos dos alunos preferem "Não Trabalhar", "Não se Dedicar", "Não se Esforçar"... São os meninos que "apenas" querem "gomas"... É certo que existem aulas que são autênticas secas... É certo que existem disciplinas e matérias difíceis... É certo que posso não gostar de algum professor ou de alguma matéria... Mas, meus amigos... também é certo que a vida, por mais que queiramos nunca será apenas "um mar de rosas", existem momentos de que não gostamos e existem bocados imensamente difíceis. Nunca poderemos fugir a esse facto, mesmo que tenhamos nascido com toda a sorte do mundo! Nenhum emprego do mundo resiste a esta filosofia... Durante décadas a Escola teve como principal função preparar os jovens para um futuro emprego. Nos últimos 20 anos a Escola parece ter se esquecido desse desígnio. Nunca gostei de estudar e dos deveres escolares enquanto aluno... Era certamente dos piores pratos que me podiam por à mesa! Contudo, meu pai mostrou-me os caminhos da vida! Tinha vários caminhos a seguir e a escolha era minha! Sabia perfeitamente o que custava trabalhar vinha um dia inteiro... Sabia o que custava cavar batatas... Sabia o que custava lombar uns baldes de cimento... Sabia o que custava levantar-me às duas da manhã, arrear o barco e vir à tarde, limpar peixe e arrumar/afinar para o dia seguinte toda a palamenta e instrumentos da arte de pesca. Esses pratos comparados com o estudo eram muito mais amargos... Nunca quereria passar uma vida inteira a saboreá-los... Mais valia o sacrifício do estudo e ver o orgulho de meus pais sempre que eu conseguia bons resultados!!!
        Existe uma verdade que vive escondida... É assunto TABU numa Escola... Quantos professores e Diretores de Turma, por esse país fora, foram obrigados a alterar uma ata, porque justificaram a falta de sucesso de um aluno pela sua falta de trabalho, falta de dedicação, falta de empenho? Quantos??? Muitas direções rejeitam pura e simplesmente este tipo de justificação, pois se forem alvo de uma inspeção pedagógica,  esta verdade terá consequências negativas na avaliação final da Escola ou Agrupamento. Quem é inspetor ou muitos dos que ordenam que assim seja, provavelmente não têm culpa de não conseguirem ver a raiz do problema. Provavelmente estão há demasiado tempo sem exercerem a atividade de professor (no nível de ensino que inspecionam) ou nunca o exerceram. Acredito que também foram vítimas da pesada e brutal herança que foi a Escola do Estado Novo... Atenção, eu não sou do tempo do Estado Novo e cheguei a ver colegas meus a levarem com a cabeça contra o quadro por não saberem fazer uma conta de dividir (a Professora - que muitos anos tinha de Estado Novo - chamava a isso "aprender a fazer contas de cabeça")!!! Passamos de um extremo ao outro. Hoje não se pode responsabilizar o aluno, pois pode traumatizar o menino. Não se pode responsabilizar os pais, pois podemos perder votos ou levar uns açoites à saída da Escola! Com todo o respeito pelos direitos da criança, há muito que deveríamos ter deixado de encarar os alunos apenas como uns coitadinhos e como vítimas da brutalidade do Estado Novo (embora estruturalmente pouco tenha mudado), mas como seres em formação, responsáveis e preparados para enfrentar a vida. Na realidade, os nossos alunos passaram a ser vítimas de um Sistema   que "lhes faz a papinha e as vontadinhas todas", sendo isto terrível para a sua formação enquanto indivíduos. Nunca deveríamos ter esquecido o papel determinante da instituição Família na formação de um indivíduo! Dentro do contexto de Sala de Aula, o Sistema responsabiliza única e exclusivamente o professor. Até aqui estamos de acordo que é da responsabilidade do professor, criar todas as condições e preparar a aulas de forma a que uma enorme heterogeneidade de alunos (já são 30) possam se instruir e se preparar academicamente para a vida... Não podemos é esconder uma verdade: o Sistema torna-se num Sistema do Faz de Conta, o Professor cozinha mais umas estratégias e aqueles alunos que aprenderam apenas a "gostar de gomas", continuam a não querer cheirar qualquer outro prato! "Senta-te"; "trabalha", "porque não fizeste o trabalho de casa"; "onde está o teu manual"; "porque não trouxeste o material que te pedi"... Estratégia e mais estratégia, plano e mais plano, apoio e mais apoio, prato e mais prato e o aluno conclui o 9º Ano... Exames Nacionais... Resultados que envergonham todo o país!!! A prova de que é importante aprender a saborear todos os pratos... mesmo aqueles de que gostamos menos... Como uma verdade foi transformada em tabu, é claro que os professores se tornam os únicos responsáveis... Para a Sociedade, para o Governo e para o Sistema tudo parece ficar claro, encontrado o responsável... Tudo se torna numa verdadeira mentira e num Sistema Faz de Conta!!!
        Felizmente, ainda sobrevivem muitos alunos que têm pais que comungam da minha filosofia e da exigência que devemos ter com os nossos filhos, para os preparar para a vida. Penso que estes alunos são as únicas pérolas que ainda dão alguma credibilidade ao nosso Sistema Educativo! Com todos os problemas sociais que atravessamos e que se avizinham, estaremos à altura de cuidar dessas pérolas? Enquanto pai, tenho como missão transmitir os valores da humanidade, educar e garantir que as minhas filhas cumpram os seus deveres enquanto estudantes e alunas. Sou um pai exigente... Amo muito as minhas filhas, para as deixar entregues a si próprias ou esperar que alguém me substitua no amor de pai! Faço tudo para que as minhas filhas tenham consciência da realidade do sistema onde estão integradas. Ensino-as a comer sopa, peixe, carne, fruta... Estou certo de que se fosse diariamente ao McDonald´s, Pizza Hut ou outro restaurante de Fast Food, tudo pareceria ter mais Prazer!!! De vez em quando e em ocasiões especiais lá vamos!!! Mais importante é o Prazer da Vida!!! Aprender a descobri-lo, mesmo nos momentos e nos pratos difíceis, nos problemas... pois não há melhor prazer do que quando conquistamos e ultrapassamos, com esforço, trabalho, brio e dedicação, cada um dos momentos difíceis! Projeto... Projeto de Vida... Trabalho... Dedicação... Empenho... tudo conjugado para um Produto Final que será um Verdadeiro Prazer! Ninguém saboreá esse prazer se não passar pelas verdadeiras etapas de um Projeto!

        Não me envergonho de ser Professor, nem do trabalho que tenho feito enquanto Diretor de Turma, no sentido de trabalhar colaborativamente com os encarregados de educação para combater este flagelo... é desgastante esta luta e muitas vezes ineficaz lutar contra as marés deste Sistema!!! Infelizmente, porque exige muito mais de mim e do meu tempo para a minha família, atribuem-me sempre direções de turmas que vêm com maus resultados escolares. Não escolho estas turmas e gostava de ter a hipótese de ser Diretor de uma Turma que tivesse, no seu historial, sucesso educativo! Contudo, escolhi ser professor e essa escolha não me permite escamotear a verdade (embora o sistema me obrigue), procurando enfrentá-la! Existe sempre um enorme relação entre os alunos que não trabalham, os encarregados de educação ausentes e o insucesso escolar!!! Cada aluno, cada encarregado de educação de alguma das direções de turma que tive, são testemunhas de que nunca lhes facilitei a vida. Desde a primeira reunião (sempre com a presença dos alunos), sou bem claro na importância da responsabilidade de cada interveniente na educação, no trabalho e na dedicação que desempenhamos a nossa missão (aluno, encarregado de educação e professor)! Como Diretor Turma, sou obrigado a fazer com que isso se cumpra... com um trabalho de equipa... Quantos pais já receberam a minha visita em casa porque o filho não se empenha ou tem comportamentos indisciplinados? Quantas vezes tive de pedir a intervenção de outras instituições quando um encarregado de educação não consegue assumir as suas funções? Qual o aluno ou pai que tenha trabalhado comigo, enquanto Diretor de Turma, passados muitos anos, não esteja no meu coração e eu no deles? Muitas noites sem dormir, muitas lágrimas, muito sofrimento para todos... para lutar contra um Sistema Manhoso!!! Tudo tem muito mais prazer com trabalho, empenho, brio e dedicação. Tudo tem muito mais prazer! Cada pedacinho da vida passa a ser saboreado! Cada prato passa a ser encarado como um ato de amor do cozinheiro! Cada prato passa a ter um sabor especial! A vida deixa de estar apenas concentrada num "saco de gomas"! Deixa de ser "Fast and without quality" para ser "Slow and high standarded"! Quando conseguimos que um aluno interiorize estas máximas, ele passa a ter sucesso escolar e está apto para enfrentar a vida! Está apto para ser um excelente profissional e apto a sonhar e a concretizar qualquer sonho!
        Nunca o Sistema Educativo teve tantos pedagogos dentro das salas de aula! Nunca o Sistema Educativo teve tantos mecanismos e ferramentas para ajudar os alunos que apresentam dificuldades condicionantes de aprendizagem! O problema é que quase todas essas ferramentas e recursos são utilizados pelos alunos que não cumprem com os seus deveres, e quase todos os alunos que se dedicam e que apresentam dificuldades, lá vão vingando com resultados satisfatórios, fruto de muito trabalho e dedicação. Quem se dedica, pouco ou nada é apoiado! Quem não cumpre tem todo o apoio do Estado. Já imaginaram se por cada negativa que um aluno tivesse e que ficasse provado que fora por incumprimento dos seus deveres enquanto aluno, os pais tivessem de pagar X, por desperdiçar recursos públicos? "Cairia o Carmo e a Trindade"! Ainda ontem faltou-me uma aluna ao apoio de Matemática. Questionei os colegas que me disseram que a aluna teve um problema e que se deslocara para casa. Quando saí, a aluna brincava no corredor. Perguntei-lhe porque faltara ao apoio. Toda feliz, respondeu-me: "Vou desistir do Apoio, pois minha Mãe vai me colocar na Explicação". Apesar da aluna não se empenhar minimamente para ultrapassar as suas dificuldades na disciplina, é meu objetivo e dever ajudá-la a conseguir o sucesso na disciplina... Pelos vistos, uma explicação paga terá muito mais qualidade! É um imperativo que cada professor diversifique, ao máximo, a suas estratégias de ensino dentro da sala de aula, de forma a chegar a grande parte dos alunos. É importante que descubra o estilo de aprendizagem predominante em cada turma, nunca desprezando as individualidades. Contudo, nunca  poderá substituir a verdadeira missão de um Pai, de uma Mãe ou de qualquer Encarregado de Educação. Reeducar é uma enormidade e tem custos incalculáveis para uma Sociedade! Educar seria muito mais fácil, mas é algo que o Sistema Educativo teima em não fazer ou não querer assumir!