quarta-feira, 10 de maio de 2017

Viagem Em Busca da Minha Essência


      "Quem Sou Eu?"... A vida é uma busca constante por respostas a esta autoquestão!  Encontrar-me e descobrir a minha posição no Universo é o talismã para saber "Para Onde Vou?". A descoberta contínua da minha essência só é possível quando viajo até às minhas origens e procuro respostas sobre "De Onde Venho?". Quanto mais viajo pelas minhas raízes, melhor compreendo o verde visível da copa da minha árvore e mais do meu destino é desvendado!
        Recentemente tive de fazer uma viagem relâmpago à Terra que me viu nascer: Nova Iorque. Após solicitação nossa, os "US Citizenship and Immigration Services" marcaram uma entrevista em Nova Iorque para a obtenção da cidadania americana por parte das minhas filhas. Tivemos o prazo de um mês para preparar toda a documentação, marcar viagens e programar toda a visita. A História e a essência da "Família Rosa" estão intimamente ligadas aos Estados Unidos da América. Este Grande País será sempre a "Terra dos Sonhos" para muitos de nós. Esta minha viagem, 20 anos depois (desde a última vez), foi uma das maiores travessias que já fiz pelas minhas raízes...
Meus Avós
        Atualmente vivo em Marinhais, Salvaterra de Magos (Portugal Continental). Comparo-me àqueles craveiros aéreos pendurados à porta de casa, que sobrevivem sem terem as raízes conectadas à Terra. As minhas raízes terrenas estão encrostadas no basalto da Ilha do Pico. Por terras do Ribatejo, busco os meus sais minerais nas minhas memórias, nas minhas ações diárias, nos gestos das minhas filhas... Em todas elas encontro os meus pais, os meus avós, os meus bisavós... e toda uma Família que me deu origem! São eles a razão da minha caminhada de vida!
        Dia 25 de Abril, Dia da Liberdade, pelas 4 da manhã, saímos de casa (Marinhais, Salvaterra de Magos) rumo aos EUA. Objetivo nº1: Conseguir a Cidadania Americana para as Minhas Filhas; Objetivo nº2: Encontrar-me com o Meu Querido Avô e deixar-lhe a companhia da sua esposa (Minha querida Avó Conceição) dos seus filhos, dos seus netos e da sua Mãe (minha Bisavó Madalena). Objetivo nº3: Estar com familiares e assim mais perto de todos os que já partiram; Objetivo nº4: Dar a conhecer às minhas filhas a "DreamLand" que faz parte das suas Essências (em especial: a "Liberty Island"/Phyladelphia e os valores que sustentam a Constituição Norteamericana; Ellis Island, primeira paragem para o meu Bisavô Alferes; Manhattan; Yonkers, NY (Minha Terra Natal). Teria de regressar dia 30 de abril com esta grande missão cumprida... A ansiedade era muita... Sabia que me descobriria e que emocionalmente muito iria mexer...
       5 da manhã (25 de abril), ao chegar de carro ao Aeroporto de Lisboa e ainda na A1 (sentido Norte-Sul), uma enorme estrela cadente rompia os céus, deixando nos céus um rasto de luz extraordinária. A minha filha mais nova dormia e não assistiu a tamanho espetáculo, mas a minha filha mais velha e esposa ficaram, tal como eu, maravilhadas. Uma voz ecoou na minha mente dizendo: "Rui, não te preocupes... a tua missão será cumprida!". Não acredito em almas de outro mundo... Acredito sim em todos os antepassados que vivem dentro de mim... Apesar de pensar que ainda estaria longe de atingir o Objetivo nº2, de alguma forma senti-o muito perto!
       13h00 aterrava no aeroporto de Newark,,, A simpatia e profissionalismo dos guardas alfandegários é algo que nos conforta... Há 20 anos o meu querido Tio Fernando nos aguardava (a mim e à minha esposa) nas chegadas... Neste ida, já não está entre nós... Está com o meu avô!
"O´Donoghue´s Bar", um dos muitos bares de Nova Iorque
 que em 1987 eu distribuia cerveja
        Dia 26 abril, 5 da manhã... Estávamos a tomar o pequeno almoço... Dispara o alarme de evacuação por incêndio. Pegámos nos documentos e descemos do 4 piso... Polícia e Bombeiros passada 1 hora, tinham a situação controlada. Tudo se processou sem incidentes. Iniciava assim o nosso 1º Dia de Visita a Manhattan ("the city that never sleeps")... Viajei de repente até ao Verão de 1987... Trabalhava para o "Big Apple Beer Distributor" e acompanhava Norton, um simpático irlandês de cabelo grisalho a distribuir cerveja num camião desde os mais chiques restaurantes e pubs das ruas que cruzam a 5ª Avenida até às difíceis "bodegas" da 8ª Avenida. Logo nas minhas primeiras saídas, depois de carregar o "trolley" com 7 caixas de "Budwiser" e preparar-me para descer um dos alçapões da 8º Avenida, um fulano perguntou-me se podia levar uma caixa... Com a minha irreverência dos 16 anos, ia armar-me em "macho-man"... Norton apenas olhou-me e disse-me. "Deixa-o levar..." Não percebi... mas respeitei a opinião daquele grande senhor de cabelo grisalho. Depois do fulano levar a caixa, ele olhou-me e disse: "Rui, a tua vida vale muito mais do que uma caixa de cerveja". A partir daí e durante as nossas viagens do Bronx até à Big Apple contara-me muitas das suas vivências nas ruas de Nova Iorque... É uma grande cidade de contrastes... Nalgumas ruas e a certas horas, temos de recorrer aos nossos instintos de sobrevivência... Noutras ruas voamos e viajamos pelos nossos sonhos!!!

Memorial 9/11
        Dia 27 abril... Começámos por visitar o Memorial 9/11. Há 20 anos estive com a minha esposa encostado a uma das torres para tirar uma fotografia na direção dos céus... Hoje é arrepiante ver o memorial e todos os nomes que pereceram... É arrepiante ver as cascatas que caem das paredes dos  2 quadrados de implantação das Torres e escorrem para o centro dos mesmos, desaparecendo terra adentro. Chegados à Liberty Island fizemos um tour com audioguia... A História da Estátua da Liberdade, os valores e fundamentos da América, um Mundo formado por povos de todo o planeta... Ao acompanhar o audioguia, olhava a serenidade do rosto da Estátua, imaginava as "Twin Towers" lá ao fundo (onde hoje se ergue o Memorial 9/11) e como o ser humano pode ser tão cruel... Imaginava o meu bisavô a chegar de uma fatídica viagem pelo Atlântico e a ver esta linda Senhora de verde a dar-lhe as boas vindas e a dar-lhe a esperança de que ele necessitava. De seguida desembarcámos em Ellis Island...
a Ilha onde os barcos transatlânticos acostavam para o registo dos imigrantes do Novo Mundo. 1909, o meu querido bisavô (José Furtado da Rosa) pisava esta ilha com o seu irmão. Eu não consegui conter aquela lágrima. Passado mais de um século parecia estar eu a revivê-lo... Senti-me como se já tivesse passado por isto antes... Uma sensação estranha, mas tão boa! Através do audioguia percorremos todo o trajeto de registo, de exames e inquéritos a que o meu bisavô foi sujeito... Emocionalmente mexeu muito connosco os 4! Encontrara-me com o meu bisavô!
       Dia 28 abril (6ªF)... 7 da manhã demos entrada no USCIS de Nova Iorque. Logo de seguida ouvimos chamar pelos altifalantes "Da Rosa Family". A entrevista estava marcada para as 8 horas, mas fomos atendidos por uma Oficial do USCIS de Nova Iorque uma hora antes. É uma senhora extraordinária, que acompanhara todo o nosso processo desde o início... Agradecemos termos sido
logo atendidos e ela respondeu-nos "Vocês vieram de muito longe, tinham de ser os primeiros a ser atendidos"... Pôs as nossas filhas à vontade e conversou um pouco com elas... Eficientemente oficializou toda a buracracia necessária... Fomos encaminhadas para outra sala com um pulpito e a bandeira norteamericana, A sala rapidamente se encheu de outras pessoas... Entregaram à Filipa uma Bandeira, o Hino e Documentação sobre os valores desta Grande Nação... Um Oficial subiu ao pulpito e ajudou a Joana (como é maior de 16 anos) a jurar bandeira! No final todos os presentes bateram palmas, num momento de muita emoção para todos nós.
EUA - Início Séc. XX
Meu bisavô (à direita) e seu irmão
É incrível... 1909, meu bisavô buscava sonhos... Trabalhou alguns anos na América, regressou ao Pico e comprou muitas terras ("Debaixo da Rocha" é um desses locais) para que o Pão não faltasse mais à sua Família (legado da Família "Alferes"). Casou-se com a minha bisavó Madalena, tiveram 10 filhos... Em 1931 e aos 40 anos de idade faleceu a minha bisavó (31 agosto - dia que haveria de partir o meu avô, seu filho). Doze anos a seguir seria a vez de partir o meu bisavô. Deixavam 10 filhos órfãos... Lutaram pela sobrevivência, desbravando o difícil solo basáltico que o seu Pai deixara. A vida fora difícil... 1965 meus avós (meu avô era um desses 10 irmãos), já com 4 filhos, procuram a "Terra dos Sonhos". Mais uma vez são bem acolhidos... Com muito trabalho, vêem rapidamente o fruto desse trabalho. Os meus queridos pais casam... Eu tenho a sorte de nascer na "Terra dos Sonhos". Quando eu fiz os 6 anos de idade, meus pais regressam à terra onde estão suas raízes (Ilha do Pico)... Sinto o Basalto e a Terra... Sinto-me conectado com a Terra... É ali que realmente sinto que vivem as minhas raízes... Meus pais lutam para dar aos filhos a vida que nunca tiveram... Dão-lhes um curso... Dão a
Os 7 irmãos num dia de trabalho com o seu
avô (meu trisavô) ao centro. Faltam na foto as 3 irmãs.
O Meu avô é o 4º a contar da direita para a esquerda.
oportunidade de exercerem uma profissão com vocação... Contudo, hoje, gostaria de ter a certeza de que um curso seria sinónimo de bem estar para as minhas filhas... Infelizmente, vejo-me inundado pelos sentimentos que o meu bisavô sentiu em 1909... Que o meu avô sentiu em 1965... Estamos em 2017... Será que este País tem condições para a prosperidade das minhas filhas no futuro??? Não sei... Por tudo isso, levou-nos (eu e a minha esposa) a abrir mais uma porta para a vida delas... a porta da "Terra dos Sonhos"!
       À saída da USCIS junto à Broadway ("downtown") dirigimo-nos a uma "Starbuck´s" para comemorar o momento... Ao beber um gélido chá, a minha aurícula direita entrou em fibrilhação... A insuficiência cardíaca leva-me a pouca oxigenação do cérebro e dificuldade em manter-me em equilíbrio. Desde que fui operado há cerca de 6 anos, as coisas têm estado estáveis. Tinha conseguido atingir os Objetivos 1 4... Teria de ter energias para completar o Objetivo 2 e concretizar o 3. Não podia a fibrilhação ter esperado uns dias??? Sabia que no dia seguinte iria estar com o meu avô... Recordava o seu enfarte do miocárdio em 1984, quando visitava os seus dois filhos que ainda estavam nos Estados Unidos e que o levou à sua última morada. À noite fui jantar a casa do meu querido primo Nick. Estar com ele, com os filhos, com a sua esposa e minha tia Pamela, levou-me a sentir-me, mais uma vez muito próximo de meu avô e em especial de meu Tio Fernando, seu Pai. Foi mais um momento muito especial em busca da minha essência!
        29 de abril de 2017... A fibrilhação auricular não me deixara descansar... A sensação de "perder os sentidos" continuava... Mas, todas as emoções que vivia a cada minuto ajudava-me a ultrapassar esse problema. Atravessámos a Ponte de George Washigton, rumo a Yonkers, mesmo ali encostada a Norte de Manhattan. 1ª Paragem: Tibbets. Na minha cabeça ainda ecoam as vozes dos meus pais, dos meus tios e padrinhos, as vozes dos meus primos, as vozes dos meus avós, naquelas reuniões familiares de fim de semana neste magnífico parque. De seguida passagem pela casa onde vivi... Pela Escola (Kindergarten e 4th grade) e Igreja que frequentei, pelo Hospital onde nasci, pelas ruas por onde passei na minha infância...
       Aproximava-se o momento do encontro... Conduzi até ao St Mary´s Cemetery. Entrei com o
carro e estacionei... Caminhámos à procura de meu avô, sabendo mais ou menos a sua localização. Aos primeiros passos, a Filipa que ia à nossa frente, descobriu logo a sua última morada. É incrível como ela foi logo lá ter. Não consigo descrever sentimentos! Passados 20 anos desde a última vez que o visitei, nunca pensei poder fazê-lo! Construí uma caixa em madeira e no seu interior coloquei uma foto das pessoas que lhe eram mais queridas (Esposa, Filhos e Netos). Coloquei também uma foto de sua Mãe, pois nunca tivera a sorte de se recordar dela viva (faleceu muito nova) nem de ver uma foto sua (esta foto só há alguns anos é que foi descoberta nos Estados Unidos pela minha querida Tia Sãozinha). Dentro da caixa deixei uma carcaça de "ouriço do mar", como recordação de todos os grandes momentos que passei com o meu querido avô "Debaixo da Rocha" a pescar às vejas. Deixei também uma concha de "lapa burra" que apesar de não estar viva, as suas cores transparecem vida pela eternidade (o ouriço e a concha foram apanhados numa das poças com maiores recordações para a Família Alferes no local de "Debaixo da Rocha"). Junto à caixa coloquei-lhe um ramo de rosas por cada um dos seu 9 netos que representam a sua Família. Queria que aquele momento fosse eterno. Não queria partir... De alguma forma senti que o deixei com um pedacinho de cada um de nós! Hoje, mais do que nunca sinto-o bem presente! Ao sair do cemitério a minha fibrilhação auricular passou repentinamente... Coincidências!!!???
1903 - Minha Bisavó Madalena
com 12 anos de idade e seus pais.
Muitas semelhanças físicas com a
minha filha de 12 anos (comparar
com foto anterior).

     À noite fomos jantar com minha prima Linda. Foi mais um momento muito importante. Prepararam um jantar de requinte e de brinde a todas as raízes que nos unem.
        Dia 30 de abril... Dia de regresso a Portugal... Ainda havia tempo para enriquecer o cumprimento do Objetivo nº4. Sobravam 5 horas... Conduzi até ao Estado da Pennsylvania e à cidade de Phyladelphia para verem o Sino da Liberdade e da Independência... No dia 4 de julho de 1776, para comemorar a independência dos Estados Unidos da América, tanto tocou que uma fenda abriu no seu metal!!!
         Nestes dias encontrei muitas respostas para conhecer o ser que sou! Viajei imenso pelas minhas raízes! Olho em frente e vejo muito mais além, mapeando muito melhor parte do caminho que me falta percorrer... nesta caminhada da Vida.