quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Ser Diferente de Todos os Outros... Ser Igual a Mim Mesmo!

       É a união de todas as diferenças (que nos distinguem uns dos outros) que dá origem a um todo quase perfeito (não fôssemos humanos)... A beleza e a harmonia/equilíbrio entre as partes de um todo é o talismã de qualquer Família, de qualquer equipa, de qualquer grupo... O respeito por essas diferenças é algo por que devemos lutar diariamente...
        Contudo, a outra das nossas lutas é connosco próprios... Descobrirmos "Quem Somos"... "De onde vimos"... e "Para onde vamos", nunca deixando que o SISTEMA nos retire identidade!!! 
        Ao longo da minha vida muitas têm sido as minhas perdas por SER QUEM SOU !!! Mas o que realmente conta... é aquele momento no final de cada dia (juízo da minha consciência) e poder proferir o Poema "Invictus" de Ernest Henley, muitas vezes proferido por um dos meus Grandes Mestres (Nélson Mandela):





        Dedico este post às pessoas que mais amo e àquelas que são verdadeira(o)s amiga(o)s, onde respeitamos mutuamente as nossas diferenças, sendo honestos e verdadeiros com as nossas consciências!!! ... Não deixando nada nem ninguém roubar-nos identidade... nem nos deixarmos levar pelas marés do Sistema nem pelos nossos interesses!!! Sermos coerentes entre aquilo que dizemos acreditar e com a nossa ação diária! Dizer e aceitar a verdade mesmo que isso implique mudanças... Todas essas pessoas tornam-se, para mim... eternas!!! OBRIGADO!!!

domingo, 25 de outubro de 2015

"Jeito" Versus Trabalho

        Admiro todas as pessoas que no seu dia-a-dia trabalham e lutam para "mudar o pedacinho de mundo que está à sua guarda". Amo todos os meus antepassados pela capacidade de sofrimento e de trabalho. Quando os meus pés tocam na lava onde brotam as minhas raízes, o meu coração ganha vida e os meus olhos deixam cair aquela lágrima que parece querer regar cada um dessas raízes. Sinto cada pedrinha de basalto negro da minha Ilha do Pico (Açores). Os meus avós, transformaram lajido de basalto em pequenas nesgas de terra produtiva. Partiram e juntaram pedra, acumularam-na em maroiços (grandes montes de pedra), juntaram os parcos pedacinhos de solo que existiam nesta ilha vulcânica, fizeram currais e canadas (muros de pedra para abrigar vinha e figueiras dos ventos e da maresia)... Plantaram... Construíram as suas casas! Durante séculos trabalharam de sol a sol para termos um Património (reconhecido pela Unesco), mas acima de tudo, para sermos quem somos.
        Ser do Pico é saber minimamente o que é um muro de pedra e conhecer técnicas de o construir.  Se não sabe o que é uma "parede dobrada", se não sabe o que é um "taipal de passagem", se não sabe o que é um "curral", se não não sabe o que é uma "canada"... se não sabe fazer parede de pedra, nunca sentirá verdadeiramente o que é ser "um Homem do Pico"! Sendo uma ilha vulcânica/sísmica, as paredes de pedra só seriam eternas se filhos e netos as reconstruíssem! Os fortes sismos desafiavam o instinto de sobrevivência... O sangue que corria nas veias de um "picaroto" teria de ser mais forte do que a lava líquida que escorria da Montanha. A teimosia humana teria de se sobrepor aos destruidores "tremores de terra" (talvez também por isso é que ser do Pico é ser teimoso)! Por tudo isso cada Pai tinha como missão ensinar cada filho a arte de colocar pedra sobre pedra e (re)construir parede! Meu Pai ensinou-me desde muito pequenino... Lembro-me da primeira grande parede que fiz (com a idade que tinha era como a "interminável" Grande Muralha da China). Tinha onze anos e a outra construtora (a minha querida irmã) tinha seis. A missão dada por meu Pai era a construção da parede "nascente" que limitava a propriedade da recém construída adega dos Arcos. Para mim era um projeto e um desafio interessantíssimo, tendo a perfeita noção que a construção daqueles 20 e tal metros de muro, me faria crescer enquanto Homem e Ser Humano. Estávamos no ano de 1982... Dentro dos nossos limites físicos, fomos "acartando" pequenas pedras e sobrepondo-as... Sem qualquer intervenção de meus pais ou de outra pessoa, construímos os 20 e tal metros de parede! Foi tão boa aquela sensação de dever cumprido! Foi tão bom ver o orgulho de meu Meu Pai e de Minha Mãe! Passados 33 anos a parede ainda vive, resistindo às intempéries e aos sismos! Dos lados Poente e Sul estão as paredes construídas pelo meu querido Pai e pelo meu querido Avô! Do lado norte (lado do Mar) está o grande desafio... Muito suor e um acumular de pedras que ano após ano a força do Mar obriga a colocar de pé!
        No Pico, com "jeito" ou "sem jeito" as paredes tinham de ser feitas e refeitas! O "jeito" só se manifesta com Trabalho". Ter "jeito" implica Trabalho árduo e "perseverante aplicação"! Ter "perfil" para algo implica forçosamente Muito Trabalho. Apenas com a Repetição, com o Treino... é que se desenvolve a ínfima percentagem de "jeito" que nasce connosco... Uns podem nascer com mais umas milésimas de talento, outros com menos uma milésimas para uma determinada competência ("skill")... mas todos conseguem concluir uma mesma tarefa com a mesma qualidade. Tudo reside no Trabalho... na Repetição da Ação... no número de vezes que Treinar a Ação e na vontade em querer atingir a mesma meta ou o mesmo objetivo (variável de pessoa para pessoa). Quem passar hoje junto à adega da minha Família no local dos Arcos (Freguesia de Santa Luzia-Ilha do Pico-Açores) dirá que quem fez aquele muro a "nascente" não tinha "jeito nenhum", especialmente se o comparar com os muros "poente" e "sul"! Se eu e a minha irmã construíssemos o mesmo muro hoje, não tenho qualquer dúvida que quem passasse não repararia nas diferenças entre as paredes (a não ser os especialistas)! Crescemos e ganhámos força de braços... Poderíamos utilizar pedras maiores... Mas, a principal razão está na experiência... Depois disso, construí muita parede com meu Pai, com o meu Mestre... Pela idade que tem e pela experiência de vida, pelo Dedicação e Trabalho que continua a valorizar, será sempre o meu Mestre... Qualquer parede que fizer será sempre melhor que a minha... Continuarei a ser seu eterno aprendiz...
        Admiro Beethoven pela sua Música, mas sobretudo pela lição de vida que deu a todos nós. A música fazia parte da sua vida, até ao dia em que perdeu a audição! Poderia ter desistido de viver! Não ter a capacidade para ouvir a magia da melodia de uma música, poderia ser condição para desistir... Todo o seu talento para a música desapareceria para sempre... Beethoven, não desistiu... Dedilhava as notas que passavam na sua Mente Brilhante, mas não as ouvia.. Um dia, enquanto repousava sua cabeça sobre o piano e tocava, sentiu as vibrações de cada nota. Com muito trabalho e "perseverante aplicação" aprendeu a "Sentir" a Música que tocava.... Lutou... Trabalhou... Treinou... Suou... Dias e dias! Hoje é um dos grandes génios eternos da Música! Os seus 2% de talento nunca seriam conhecidos, se não fossem os 98% de "perseverante aplicação" e Trabalho.
      Em Educação e na "vida dos tempos modernos" o valor do Trabalho é completamente deturpado e desrespeitado. Por exemplo, para aqueles alunos que apresentam necessidades educativas especiais, que não se enquadram/adaptam a um Sistema Educativo obsoleto baseado no débito de informação e na memorização através da audição, com as mesmas linhas orientadoras do tempo da Revolução Industrial, criam-se programas que desencorajam o trabalho, facilitando-lhes a vida (para terem de trabalhar menos). São enganados, pois dizem-lhes que atingirão as mesmas metas... Retiram-lhes ferramentas, achando que não têm capacidade para as usar! Algum carpinteiro será bom carpinteiro se lhe retirarem  martelo e o serrote? Será tão bom como outro carpinteiro com essas ferramentas? O que seria de Beethoven se lhe tivessem retirado o piano quando deixou de ouvir? Tratamo-los como coitadinhos... Retiramos ferramentas em vez das ensinar a usar e de dar novas ferramentas... Não os ensinamos a amar a vida e a desenvolver os seus talentos... Retiramos a capacidade de sonhar (a todos os alunos em geral)... A capacidade de voar... O Sistema diz que é possível voar sem bater asas! Pura mentira que infelizmente os DDT ("Donos Disto Tudo") parecem fazer crer, pois esses apenas voam com o bater de asas do um Povo! Na Natureza nenhum pássaro voa com as asas de outro. Na Natureza nenhum Ser Humano sonha pela mente do próximo!
        O mesmo se passa com a profissão de Professor e com outras profissões, neste Sistema do qual fazemos parte. Então... neste nosso Portugalzinho ("inho" porque os DDT o fizeram assim) quando há alguém que cumpre com a sua missão de "mudar o pedaço de mundo que está à sua guarda" diz-se apenas "tens muito jeito" para a coisa... "Tens perfil"... Nos Estados Unidos, onde estudei e trabalhei, ouvia dos meus professores e patrão as expressões "Good Work" ou "Great Job"! A valorização do valor do trabalho era constante! Um respeito enorme por este valor! Um respeito enorme pela dignidade do Trabalho! Quem trabalha mais... ganha mais! Quem não trabalha sai... para dar lugar a outro que trabalhe (cruel, mas é a lei da natureza a funcionar), em vez de se arranjarem funções estéreis para parecer que trabalha. Quem trabalha é motivado a dar mais de si! Ter talento, jeito ou perfil é algo que se adquire ou se desenvolve com muito Trabalho e quando este está à vista de todos! Se não se vê... não houve trabalho! Numa Escola de nada serve uma planificação, ou o que está escrito numa ata ou num plano, se não tiver sido feito ou não estiver à vista de todos... e que cada aluno envolvido tenha sentido no seu coração o resultado da ação. Só assim existem verdadeiras aprendizagens! Até aqui o Sistema falha "propositadamente", enviando inspetores para ver o que está escrito, desprezando o trabalho que se vê e que cada aluno sente! Vêem-se números e esquecem-se as pessoas! É o Sistema de ... "se está escrito... está feito"... Inspeciona-se a capacidade de fingir que se trabalha e os melhores são aqueles que têm esquemas e estratagemas para manipular números e são excelentes burocratas!
        Neste país brinca-se e goza-se com o Trabalho! Inconscientemente (porque o hábito levou a isso) ou conscientemente, quando alguém nos diz "tens jeitinho", "tens perfil"... quando o que se vê é fruto de Trabalho árduo para conseguirmos atingir objetivos... é um desprezo total pelos 98% referidos por Beethoven! Diria mesmo... uma falta de respeito (consciente ou inconsciente)! Parece que quando nos elogiam com a expressão "tens jeito" quando "damos o litro", estamos a ser "enjeitados"! Prefiro que digam "fizeste merda"! Pelo menos é a prova de que fiz qualquer coisa e dá-me a oportunidade de evitar da próxima a "merda" que fiz (também só aceito esta expressão das pessoas que trabalham diariamente para cumprir com a sua missão). Uma coisa garanto... todos nascemos com mais umas milésimas ou menos uma milésimas de talento... Mas todos conseguimos atingir as mesmas metas! Apenas dependemos da nossa experiência numa determinada tarefa, do número de repetições das nossas ações para o conseguir, da força que temos em acreditar na mudança e da energia do próximo para nos motivar (sendo esta última a principal capacidade de um líder). "Eu tentei 99 vezes e falhei, mas à centésima tentativa eu consegui. Nunca desista dos seus objetivos, mesmo que esses pareçam impossíveis. A próxima tentativa pode ser a vitoriosa" (Einstein).
        Hoje em dia, o tijolo, o bloco e o betão armado e os avanços na tecnologia da construção levaram a que picarotos da minha idade e muitos jovens deixassem de aprender a construir paredes de pedra do Pico. Sentir um pouco da resiliência dos nossos antepassados, sentir o sofrimento e a dor que deu origem aquilo que somos hoje, sentir o Amor das raízes... É algo que já não se sente... Tal como a vida obrigava os meus antepassados a saber construir paredes de pedra... se todos nós fôssemos obrigados a saber construir as paredes de betão armado dos tempos modernos da casa onde dormimos... não tenho qualquer dúvida que o respeito pelo Trabalho e pelo Trabalho do próximo faria parte do nosso dia a dia! Não tenho qualquer dúvida que "cada um de nós transformaria os pedacinhos de mundo que estão à sua guarda" (Idália Sá Chaves, Universidade de Aveiro).
        


sexta-feira, 18 de setembro de 2015

O Campeão Nacional de SuperCross - Sandro Peixe - Está Connosco (CV-TVR)

        Alcançar o sucesso, chegar ao Topo de uma Montanha, ser Campeão não é possível sem muito espírito de sacrifício e sem os valores do Trabalho, da Verdade e do Respeito (TVR) por si e pelos outros! Superar-se a si todos dias é a nossa grande batalha, pois o nosso grande adversário e o único inimigo que nos acompanhará sempre, será a nossa Mente. Quem encarar a vida com o principal intuito/ideia/objetivo de “ser melhor” do que os outros, nunca chegará longe, nunca saboreará momentos de glória. Viverá à sombra daquele que “luta” para se superar, viverá obcecado por ser melhor… Perderá energias a comparar-se, correndo o risco de despertar um dos mais feios sentimentos da humanidade (a Inveja)… Esquecerá que é um Ser Único, não havendo comparação possível com mais ninguém! Preocupar-se-á apenas em trabalhar a sua imagem, com base naquilo que agrada os outros… Esquecerá que o Coração é o ponto de partida (do interior e nunca do exterior)… Esquecerá de partir do Silêncio e não do Espetáculo… Começara a esconder a extraordinária pessoa que vive dentro de si, começando a tapar essa Pérola! Cada um de nós tem uma missão Única a cada dia que passa!
       Este Ano, temos um “Ser Humano” extraordinário que nos apadrinhará! Alguém que tem o prazer de Ser diariamente a Pessoa que É ! Alguém que se supera a si todos os dias! Não vive para a imagem, tendo o silêncio como regra de ouro para se superar! Vive mesmo aqui, a 5 ou 6 kms de distância e poucos ouvem falar dele! A sua simplicidade e verdade com que encara a vida, os ensinamentos do seu Pai (antigo campeão de motocross), os valores familiares com que cresceu, tornaram-no apenas no Campeão Nacional de Supercross e da classe MX2. O seu nome é Sandro Peixe!
Foi aluno da nossa Escola. Foi sempre um aluno de topo. Foi sempre um aluno completo, brilhando em todas as áreas. Se tinha dificuldades numa disciplina, intensificava o Trabalho para as ultrapassar. Nunca desistiu da luta para se superar! Nunca desistiu depois de uma queda! Recordo-mo do Sandro no 6º Ano de escolaridade… Conciliava a Escola com uma atividade muito exigente física e mentalmente – o Motocross. Num acidente de moto teve fraturas em ambas as pernas… Faltou 3 meses às aulas… Mas, logo que conseguiu erguer a cabeça, voltou à Escola… com as duas pernas partidas… No final de uma aula disse-me: “Professor, faltei a algumas aulas suas. Perdi alguma matéria. Pode-me ajudar e explicar um pouco aquilo que perdi.” Admirava-o (como o admiro hoje) já pela pessoa que era, pelo Respeito enorme com que encarava a vida, a si e o próximo. Admirava-o pelo seu silêncio e atenção. Admirava-o por saber responder sempre a qualquer pergunta que lhe fizesse! Todos os professores do Sandro testemunharam o brilhar deste ser Genuíno, sem máscaras… Todos testemunharam a Verdade!
Hoje o Sandro continua a Estudar… Está na Universidade. Nunca desistiu dos seus sonhos! É Campeão Nacional de Supercross e MX2! É uma grande Referência para todos nós por ser um verdadeiro exemplo TVR (Trabalho, Verdade e Respeito)! Não direi que é um Modelo, pois um Modelo não é mais que alguém ou um original a partir do qual fazemos cópias! Queremos que cada um dos 24 alunos da turma seja um Original! Que continuem a procurar respostas para a pergunta que lançámos a no passado (“Quem Sou Eu?”)! Queremos 24 pérolas no final do Curso, cada um com o Seu Brilho! 
        5ª Feira dia 17 de setembro estaremos com o Sandro onde teremos a oportunidade de conhecermos os passos para se chegar a Campeão. Teremos várias motos e conheceremos o respeito que devemos ter ao sentarmo-nos num veículo de duas rodas e todas as questões de segurança que nunca devemos desprezar. 
        Obrigado Sandro Peixe, por abraçares este Projeto e por dares a oportunidade de partilhar connosco os ensinamentos que a vida te deu. Obrigado Campeão!



terça-feira, 11 de agosto de 2015

"FÉRIAS" - Meu Porto de Abrigo

29 de julho - Navio Escola Sagres
ao largo do meu Porto de Abrigo
        A minha vida é feita de viagens que a Mãe Natureza determinou como sendo cíclicas e anuais. Em cada setembro levanto velas  e deixo-as levar minha barcaça para mais uma missão de 11 meses. Todos nós temos a nossa barcaça... o nosso "pedacinho de mundo"... a nossa missão. Contudo, a missão só faz sentido pela existência de todas as barcaças que me rodeiam. Se o Mar fosse só meu, a solidão seria um real Adamastor que me devoraria num ápice. O sucesso de cada missão reside na diferença de cada barcaça, no respeito pelas diferenças e no reconhecimento da importância e na interdependência das mesmas, para um todo... para um Mundo Global melhor. Cada um de nós deve preparar minuciosamente cada viagem, dando o melhor de si, nunca tendo por base a competição, mas tendo consciência que o melhor de si é o melhor de todos. Dependemos todos uns dos outros. Se eu falhar, se eu não fizer a minha parte, com toda a certeza que porei em causa o trabalho de outros... porei em causa o bem comum... É impensável eu colocar a hipótese de deixar que alguém perca energias com aquilo que é a minha missão, pois na vida, por muitas vezes, temos de sair da nossa barcaça e pegar na roda de leme de outras embarcações. A imprevisibilidade da vida muitas vezes obriga-nos a ajudar quem está em dificuldades na sua missão, mas é inconcebível alguém fazer o nosso trabalho, porque nos demitimos do mesmo ou não nos preparamos convenientemente para a nossa viagem.
       A experiência da vida dá-nos ferramentas para antever problemas e para os solucionar. Por outro lado, os janeiros retiram-nos a energia da juventude, mas o equilíbrio da Mãe Natureza compensa a sua falta (de energia), com as ferramentas que vamos adquirindo. Navegar em mar alto é sempre um grande desafio... Aproar a embarcação às ondas de uma tempestade de noroeste, dá-me um prazer do caraças! É a adrenalina que é descarregada nas veias... Acreditando que a minha viagem contribui para o sucesso de alguém, nada nem ninguém me demove da mesma... Sou muito teimoso (característica dos Alferes - alcunha da família do meu avô paterno)... Nunca deixo de lutar por aquilo que acredito... Contudo, quanto maior é a minha determinação, maiores são as minhas dúvidas... Cada viagem é um risco, pois procuro sempre trilhar mares diferentes. No recolher de cada dia, ponho em causa as minhas capacidades, as minhas habilidades, o meu rumo. Ouço o sentir dos meus marinheiros... Deixo me levar pela intuição, pelo meu anjo da guarda... pelo meu São Cristóvão. Agradeço a todos pelas decisões corretas que me ajudam a tomar. O sucesso de cada decisão une o grupo... faz cada membro da tripulação ver o trabalho compensado e o saborear em grupo dos seus frutos é algo de divino!!! Transcende a condição humana!!!
       Mais uma vez, depois de uma grande viagem pelos mares da educação, no final de julho recolhi ao meu "Porto de Abrigo". São as minhas "Férias". Sim, Férias... não são mais que um "porto de abrigo" onde temos tempo para recuperar física, social, mental e emocionalmente daquela viagem por mar alto. Nas duas primeiras semanas procuro esquecer, fazer um "delete" ou um "reset" da viagem anterior. São as semanas do "nada"... Procuro o silêncio do mundo submarino... Procuro o aconchego da Família e das pessoas que mais amo e que a minha viagem afasta fisicamente... Ligo os cabos ao carregador de baterias...
7 de agosto - Despertar depois de remover
a Vesícula Biliar por laparoscopia.
        Passadas as duas primeiras semanas começo a preocupar-me (Pré-Ocupar) com a viagem do próximo ano letivo. Começo a verificar o estado do velame, do cavername, dos instrumentos de navegação... Preciso cuidar da parte física. Este ano tinha um pequeno rombo do casco. Esperei pelo meu "Porto de Abrigo" para o reparar. Parar a meio da viagem seria impensável, pois muitos dependiam de mim. "Resiliência" foi algo que meu pai me ensinou. Tive a melhor equipa de cirurgia do mundo que me ajudou. Mais uma semana e estarei fisicamente apto.
29 de julho - Formação do Capelo do Pico
      Começo a olhar os astros para relembrar as suas indicações. Começo a ouvir a brisa que vem de sul e desce a Montanha do Pico... Ouço os conselhos de Sua Majestade, o Pico... À noite ouço os cagarros a dizer que partirão comigo e me acompanharão na viagem, regressando no próximo ano. Viajo pelas minhas origens, pelos caminhos trilhados pelos meus antepassados. Procuro inspiração e a energia que os faziam revirar lava e procurar pequenas nesgas de terra para cultivar o sustento dos seus filhos. Cuido da minha Alma...

        A saudade e dor da partida por deixar para trás muitas das pessoas que mais amamos é das que mais
3 de agosto - Comemoração de 19 anos de Casamento
magoam. Compreendo-a pela imperfeição da vida. A perfeição não existe e nada é fácil. Compenso essa dor pela presença dos meus pais e dos meus familiares nas minhas ações. Procuro ser sempre fiel aos seus ensinamentos e ao seu amor. Considero-me um sortudo, pois tenho a sorte do amor da minha vida me acompanhar sempre em cada viagem. Tenho a sorte das nossas queridas filhas nos darem as mãos e partimos sempre juntos e abraçados, sem nunca nos largarmos. 
        A vida ensinou-me que não devemos ter medo de enfrentar cada missão. Não devemos ter medo do Mar, mas sim respeitá-lo. Não devemos ter medo da Mãe Natureza, mas sim respeitá-la. Não devemos de ter medo de ninguém mas sim respeitá-lo. Contudo, com o passar dos anos, existe um medo que me começa a perseguir. Talvez pela perda de algumas faculdades físicas com o passar dos anos, temo falhar nas minhas missões e condicionar a vida das pessoas que mais amo. Tenho medo de não estar presente ou falhar por algum motivo.
      Setembro aproxima-se. Estarei preparado no final de Agosto. Peço a Deus que me ajude em mais uma viagem. Não posso falhar pelas minhas filhas, pela minha esposa, pelos meus familiares e antepassados e pelos meus queridos alunos. Um boa viagem para todos!
     

sábado, 20 de junho de 2015

O Mundo Procura Líderes, Com Urgência!?


      Qualquer um pode ser Chefe. Chefes "há muitos"... É como os chapéus de Vasco Santana! Muitas variedades e feitios! Há os mandões! Há os que vibram por acharem que ser Chefe é estar uns degraus acima dos outros! Há outros que se autobajulam pelo Poder que pensam ter! Há outros que fazem figura de chefe, e lá estão para servir interesses instalados! Há outros que têm o título mas não têm rosto! Outros só têm rosto quando as coisas correm bem! Há outros que lá estão pelo estatuto... ou por mais uns trocados... Há tantos e tantos outros...
        Com tanto Chefe, tanta Autoridade Nacional e Internacional, tanto Instituto, tanta Provedoria... por mais que procure, não encontro ninguém que seja o meu Líder. Por vezes sinto-me perdido no pedacinho de Mundo que a Mãe Natureza me atribuiu à nascença. Esse pedacinho de Mundo só faz sentido quando ligado a outros pedacinhos de mundo vizinhos, e embora eu tenha como missão e o dever de estabelecer pontes, precisamos sempre de um Líder que tenha a capacidade de subir aquele degrau mais acima, para ter uma perspetiva global e a capacidade de descer ao mais baixo degrau para abraçar e ajudar quem lá está, a subir a escada da vida e a uni-lo a todos os pedacinhos de Mundo por ele liderado! Ser Líder é ter a capacidade de unir todos os membros da sua equipa, numa causa e/ou objetivo comum, respeitando cada qual como é, fazendo dessa diferença a riqueza do grupo. Cada um tem uma missão: "transformar o pedacinho de mundo que está à sua guarda" (Idália Sá Chaves). Transformar aquele pedacinho de mundo diferente de todos os outros...
        O facto de cada um de nós ter "um pedacinho de mundo" para cuidar, faz de cada um de nós um líder, nem que seja daquele pequeno quinhão de terreno. O Universo é constituído pelo infinitamente pequeno e pelo infinitamente grande. A "grandeza" de ambos os infinitos não é mensurável. A relatividade de onde nos encontramos lá no "meio desse infinito" (força de expressão, pois se é infinito para os dois lados, não existe "meio") é uma realidade que não podemos contornar. Apenas nos resta descobrir qual a nossa posição no Universo. Enquanto escrevo este "post", observo no meu quintal um carreiro de formigas todas coordenadas, uma verdadeira equipa a laborar com sentido. Certamente terão um Líder... E o que verá cada uma dessas formigas para os lados do infinitamente pequeno...? Muitas nano organizações lideradas por "alguém"? Olho o Céu, nesta dia que se prepara para ser tórrido, e vejo um bando de pombos a voar que mudam repentinamente de direção, como se fosse apenas Um... Procuro Líderes, que me façam sentir como aquela formiga ou aquele pombo... caminhando com direção... voando com sentido... com todo o ser humano que me rodeia. Infelizmente... apenas encontro a Mãe Natureza, líder de todos os seres vivos. Infelizmente, o Ser Humano parece ser aquele que teima em não reconhecer essa liderança, sendo incapaz de respeitar todo o Amor dessa Mãe, todos os seus ensinamentos, todas aquelas regras... parecendo não descansar enquanto não a depuser como a Rainha Mãe e ocupar o seu trono...
        Essa ganância e ânsia (por vezes por inveja) de mudar o pedaço de mundo que não nos foi atribuído à nascença, é uma das razões porque precisamos sempre de um Líder. A mania de interferir no trabalho do próximo, esquecendo de fazer o seu, destrói qualquer organização. Há um pedacinho de mundo que está a perder sua cor e a querer alterar a cor do "pedacinho de mundo" do vizinho. Cada "pedacinho de mundo" tem a sua cor e tonalidade e só com a vivacidade da diferença de cada uma delas, é que temos um mundo melhor. Um Líder faz acreditar cada um dos seus membros num determinado rumo, motiva cada um para brilhar na sua cor... sem nunca ter intenção de a mudar, reconhecendo-a como fundamental para o quadro "perfeito" (sei que no ser humano a perfeição não existe, mas nada nos impede de a procurar incessantemente :))! Não existem duas cores ou tonalidades iguais! Quanto mais brilhar cada uma dessas cores ou tonalidade, mais sentido terá o brilho da cor do meu pedacinho de mundo... Apenas não me posso esquecer do brilho do meu quintal, pois mais ninguém tem o poder para o transformar!
        Os nossos chefes não têm olhos para descobrir que o brilho de cada um é o brilho da sua organização. Procuram dividir para reinar. Procuram apequenar para triunfar. Procuram pintar o quadro com uma cor só (apenas a sua)! Procuram ficar em primeiro plano na foto! Líder não precisa aparecer na foto! A sua cor vê-se misturada no brilho da cor e no coração de todos aqueles que lidera! 
        Nelson Mandela é uma das minhas grandes referências de líderes humanos. Ao declamar o poema "Invictus" de William Henley, enquanto esteve preso... nunca deixou de acreditar na cor do seu pedacinho de mundo . "I am the master of my fate! I am the captain of my soul!" Uniu uma nação... onde o conflito étnico e racial roçava o pior da condição humana. Procurou em cada ser humano cada uma das virtudes, a começar pelos que mais o odiavam... Deu a conhecer a cor de cada um... cada uma das suas virtudes... Engrandeceu cada ser humano e enobreceu a sua missão! Motivou cada um para uma causa comum! Uniu todos os "pedacinhos de mundo" num só! Inspiro-me em Madiba para cuidar do meu "quintal". Aguardo os janeiros para sair da minha pequenez com a ajuda do coração e do brilho da cor da grandeza das pessoas que me rodeiam. Agradeço a todos aqueles com quem tive e tenho a sorte de me cruzar. Apenas procuramos líderes que reconheçam, respeitem e deixem engradecer cada uma das nossas cores...