Desde muito pequenino que o barulho dos motores de combustão estimulam as suprarenais a libertar adrenalina na minha corrente sanguínea. Aos 4 anos de idade o Pai Natal trouxe-me uma "Trike" a pedais (ainda por terras do "Tio Sam"). Imaginava o roncar de um motor... A minha perna curta, não incutia nos pedais a potência desejada... Nada que aquela rampa ao lado da minha casa do 2 Ritters Lane (Yonkers - New York), não me levasse a ultrapassar todos os meus limites de velocidade. Para dificultar um pouco as coisas, meu pai lá punha uns obstáculos para eu saltar por cima, quando atingia a velocidade de ponta!!! "Uau"!!! Nunca fui de expressar fisicamente as minas emoções, mas aquele momento era uma explosão de alegria interior, difícil de explicar!
Aos 5 anos, o meu querido Pai Natal trouxe a minha primeira bicicleta... Uma réplica perfeita daquela "Triumph Trophy TR5" pertencente ao Fonz da série "Happy Days" que passava na TV norteamericana!!! Foi a minha única bicicleta até aos meus 18 anos de idade!!! Para mim era uma "máquina infernal"... A partir dos 6 anos vim viver para os Açores e a minha "bike" acompanhou-me! Descer o "Caminho da Cruz" ou o "Caminho do Cabrito" ainda embagaçados (terra batida) era uma adrenalina do caraças!
O meu querido Pai também vive com o bichinho dos motores dentro dele... Diria mesmo que os veículos motorizadas poderão contaminar os genes de tal forma que essa paixão passe de pai para filho. Desde muito cedo quis que eu experimentasse e potenciasse a sensação espetacular de controlarmos uma máquina. Fazia uma coisa a que eu chamo de "Adrenalize" (por isso é sou fan dos Def Leppard - sendo esse um dos títulos das suas canções). Com 7 anos de idade já dava as minhas arrancadas na Casal de 4 a Turbina ("Modelo de Luxo") de meu pai. Apenas tinha de ter o cuidado de arrancar e parar junto a um degrau... ou então a minha perna curta, não chegava para manter a moto na vertical. Com os meus 13 anos tive o meu primeiro acidente... Seguia pelo "Caminho da Ossada", um caminho de terra batida estreito e com curvas (hoje já é largo e asfaltado). Confiei na minha sorte e pensei que aquela hora da manhã não viria nenhum automóvel em sentido contrário. O meu primo Luís Fraga, na sua carrinha Peugeot 504 (caixa aberta), vinha em sentido contrário a pensar o mesmo. Curtia o "zunir" daquele monocilindro a ultrapassar cada uma daquelas curvas! De repente a descarga de adrenalina no sangue cresceu exponencialmente! Uma carrinha pela frente... Instinto... Um grande vôo na direção de um muro de basalto!!! O meu São Cristóvão providenciara-me uma cama de pasto de milho que se encontrava a secar encostado ao longo do muro. Atordoado no meio do pasto, ouvia meu primo Luís a dizer... "O Rui está morto!". As suas palavras eram tão sentidas que por momentos acreditei que já estava no estado de alma! Depressa vi que a minha alma ainda estava conectada ao meu corpo. Saí do meio do pasto e apenas tinha uma cana de pasto metida no músculo da perna. Retirei-a e nem uma gota de sangue corria (só uns bons segundo depois é que isso aconteceu)! A dor não existia! Estava anestesiado pela adrenalina!
Com 12 anos já conduzia a Toyota Dyna de meu pai. Aquele motor de 3000 cilindrada tinha uma força fenomenal!!! Aos 16 anos tirava a minha carta de condução em Nova Iorque, num Verão memorável que lá passei. Os meus pais compraram naquele Verão um Ford Mercury de 6 cilindros (penso que custou 200 dólares) para eu e a minha Mãe tirarem a carta! Regressado aos Açores, comecei a conduzir o Datsun B210 Hatchback (1400cc) de tração traseira (carro americano) que meu avô deixara à família. Arranjei um projeto de pintura para o carro. Meu pai lá o pintou de preto, tal como eu projetei!!! Estava lindo de morrer!!! Muito diziam que era o "Kit" do Michael Knight (exagero, diga-se de passagem)!!!
Fosse de "trike" a pedais, fosse de bicicleta, fosse de Toyota Dyna, fosse de Datsun B210, o prazer do chamado "adrenalize", levava-me a arriscar sempre um pouco mais. Peço desculpa à minha querida Mãe, por deixá-la inúmeras vezes com o coração nas mãos! A verdade é que Ela nunca sonhou com metade das maluqueiras que eu fiz!!! Nunca fui de dar espetáculo para os outros... os maiores disparates decorrentes do "adrenalize" eram feitos sozinho!!!
A minha paixão pelas 2 rodas esteve sempre presente! Parece que nasci com um projeto de vida "2 rodas". Nesta minha primeira metade de vida (não era mau que assim fosse), parece que estava escrito que a minha paixão estava nas trail e nas fora de estrada, passando pela Velocidade... Comecei com uma Paris Dakar 125, depois uma Dominator 650... uma XT 350... uma KLR 650 (ainda uma das minhas máquinas)... uma CBR 1000 F e uma GSX 1100 F. Com o crescer da idade na primeira metade de vida parecia que o prazer aumentava com o aumento da cilindrada das máquinas!!! Ajuda, mas nos últimos anos a vida tem me ensinado o que em criança me ensinou! O prazer está muitas vezes na simplicidade das coisas e no poder que o nosso coração tem para as transformar. À medida que nos tornamos adultos, perdemos a capacidade de ter olhos para o ver (felizmente, a experiência de vida, vai nos devolvendo essa capacidade, à medida que envelhecemos)!!! A minha primeira bicicleta deu-me tanto ou mais prazer do que andar na minha CBR 1000 F. Cheguei a imaginar a minha bicicleta como um avião a jato!
Este ano, eu e a minha querida Esposa, decidimos ir à Concentração de Faro (a 300 e tal kms de distância) levando a scooter da nossa querida Filha mais velha!!! Uma Macal Sting CY-50 (Made in Portugal)! Um desafio espetacular, sobretudo porque peso 120 kgs, com o adicionar das gramas da minha Esposa... Foram 4 dias fora de série! A magia esteve sempre presente!!! Muitas imagens guardo destes 4 dias. Hoje enquanto desfilávamos pelas ruas de Faro, com a nossa minúscula Sting, no meio de grandes colossos de 2 rodas, uma menina da assistência começou acenar-nos. No meio de tantas máquinas extraordinárias, aquela linda menina conseguiu, naquele momento, eleger a nossa motinha. Só nos deixou de acenar quando nos perdeu de vista. Não consigo esquecer aquele lindo e grande sorriso!
O Moto Clube de Faro, mais uma vez, conseguiu que o prazer e adrenalina de todos os que lá passaram, desde as 50 cc até aos 2000 e tal cc, estivesse sempre em alta. No encerramento o seu presidente, Sr. José Amaro, pedia desculpas por algumas falhas da organização. Nunca o País dificultou tanto a vida à organização. Fiscalização da ASAE, GNR a não perdoar nenhuma distração (até a nossa Sting teve direito a multa, pois no para arranca para a praia da Ilha de Faro, esqueci-me de ligar a luz - andei sempre com a luz ligada, mas a lotaria aguardava por aquele momento), faltas de apoio de algumas entidades.... Isso é o que todo o português comum sente... Infelizmente, os que comandam os destinos do País não deixam as pessoas viver, sonhar e desenvolver a Nossa Nação!!! Agradeço à excelente organização desta 32ª Edição e por tudo o que nos proporcionaram nestes últimos dias!!! Obrigado!
Ok... e já agora... no meu projeto de vida "2 rodas", como estou a entrar na 2ª metade da minha vida (espero que seja pelo menos a metade), com a desacelerar do meu bioritmo, estou prestes a iniciar-me na onda Chopper, com um roncar mais pausado e menos rotativo !!!